Política

Jaques Wagner: Fizemos distribuição de renda, mas não mexemos na concentração

Em entrevista a CartaCapital, senador do PT afirmou que a democracia não convive com a extrema miséria e a exclusão

Foto: Reprodução/YouTube
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O senador Jaques Wagner (PT-BA) avaliou que o PT errou ao não combater a concentração de renda no Brasil, quando estava com o poder no Palácio do Planalto. Em entrevista ao diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta, o parlamentar rejeitou exigências de que o seu partido faça autocrítica quando o objetivo é alimentar a criminalização da legenda. Ao mesmo tempo, considerou que é preciso apontar responsabilidades da sigla no sentido “renovador e propositivo”.

“Na própria execução da economia, a gente fez distribuição de renda, mas não bulimos na concentração de renda. Durante 13 anos e meio, governamos e não conseguimos fazer o que era fundamental. Fizemos, claro, com o Bolsa Família e outros investimentos públicos, uma inclusão. Mas não bulimos lá em cima”, disse o senador. “Tanto que dois anos e meio depois, continuamos o 2º [colocado] em concentração e o 6º pior em desigualdade social.”

 

Frente à concessão do auxílio emergencial de 600 reais para socorrer informais e desempregados, Jacques Wagner lembra que a aprovação do presidente Jair Bolsonaro tem subido. O parlamentar acredita que a condução dessa política poderá influenciar na posição de Bolsonaro para as eleições de 2022, mas é preciso saber se o chefe do Executivo conseguirá aprontar o programa Renda Brasil assim que der fim ao auxílio emergencial.

Para Wagner, o programa Renda Brasil pode resultar em uma troca de “seis por meia dúzia”, já que o governo Bolsonaro é marcado por cortes em investimentos públicos. No entanto, é necessário ter atenção sobre como essa verba será recebido entre os beneficiários.

“Provavelmente, será um jogo de trocar seis por meia dúzia: acaba com o abono salarial, acaba com uma série de outros programas sociais, mistura tudo, divide pelo número e vai para 230, 250 [reais]. Como é que vai ser o reflexo disso na cabeça das pessoas? Essa é uma pergunta”, indagou.

Do ponto de vista da esquerda, o senador cogita riscos de um novo revés na próxima eleição presidencial. Ele recorda que o programa Bolsa Família, na era Lula, foi instituído com “convicção social”, mas a iniciativa colaborou para uma boa avaliação popular em relação à gestão de seu partido na época.

“Num país pobre como o nosso, óbvio que a gente fez o Bolsa Família por absoluta convicção social de que haveria um país se você distribuísse renda. Mas se eu disser a você que isso não interferiu na gratidão de quem recebe, em relação ao presidente, eu estaria mentido. Claro que interferiu. As pessoas dizem: como vou negar meu voto a alguém que me ajudou? Funciona assim, porque não tem politização”, disse.

No entanto, com os altos índices de desemprego, o petista também considera a possibilidade de haver tensionamentos futuros.

“Com essa taxa de desemprego, mesmo que ele venha com a Renda Brasil de 250 reais, nós vamos ter uma explosão social. Se não tiver uma reação de melhora da economia e da empregabilidade, você vai ter um tensionamento social. Se ele vai desembocar em algo de rua, não sei dizer, porque não acha que tenho essa organização. Mas muitas coisas acontecem sem script”, examinou. “A democracia não convive com a extrema miséria e a exclusão. Porque ninguém consegue dizer: eu sou livre para passar fome, eu sou livre para o meu filho não estar na escola.”

O senador defende, portanto, que a esquerda reaja com a renovação de seus quadros, com a formação política de suas bases e, principalmente, com a agenda das necessidades do povo. Ele se diz “obsessivo” com o tema e diz que é preciso, também, associar-se a pautas que, hoje, mobilizam parcela da sociedade.

“Tenho sido obsessivo na renovação dos quadros”, disse. “O PT tem que trazer a juventude para dentro do exercício da política, o que a gente já deixou de fazer há muito tempo, que é a formação, a linguagem. Precisamos abraçar questões que mobilizam muito, e que têm conteúdo. Se não é revolucionário, ao menos colaboram para avançar”, disse.

Uma das causas que ele destaca que o seu partido precisa abraçar é a da sustentabilidade. Wagner é vice-presidente na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, hoje presidida pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES). Para o petista, por meio desse tema, também é possível evidenciar os efeitos devastadores do sistema produtivo do capitalismo.

“A pauta da sustentabilidade ambiental é fundamental. O modelo do desenvolvimento capitalista afronta os seres humanos, com as desigualdades sociais, e afronta o meio-ambiente”, diz ele.

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