Política

Jair Bolsonaro cai na ‘velha política’ no caso de seu líder no Senado

Alvo da Polícia Federal, Fernando Bezerra Coelho por ora fica no cargo, por causa de três votações de interesse do governo

Foto: Marcos Corrêa/PR
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Jair Bolsonaro viajou para Nova York, onde participa da Assembleia Geral da ONU, e na volta vai “considerar”, segundo seu porta-voz, Otávio Rêgo Barros, a situação do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). O senador foi alvo da Polícia Federal (PF), e até aqui Bolsonaro trata o caso com o pragmatismo da “velha política”. Não o demitiu do cargo, apesar de o senador tê-lo colocado à disposição.

É uma atitude sintonizada com o que dizia o guru bolsonarista, Olavo de Carvalho, quatro dias antes de a PF vasculhar o gabinete de Coelho, em uma investigação por suspeita de recebimento de 5,5 milhões de reais em propina de empreiteiras, entre 2012 e 2014. “Vamos combater primeiro os comunistas, seus idiotas. Não entenderam ainda? O problema no Brasil não é a corrupção, é o Foro de São Paulo, é o poder esquerdista”, afirmou o guru.

O pragmatismo do presidente tem seus motivos. O Senado é (ou logo será) palco das três principais batalhas políticas do governo. A primeira é a reforma da Previdência, prestes a ser votada. A outra é a aprovação do indicado de Bolsonaro para novo procurador-geral da República, Augusto Aras. A terceira será a futura votação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada nos Estados Unidos.

O filho do ex-capitão tem buscado votos no Senado em favor de sua nomeação como embaixador. Já visitou 50 senadores, segundo o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que acredita que o deputado deixou boa impressão nos interlocutores.

Eduardo é um filho preocupado com o perigo de o pai parecer, perante os brasileiros, como um presidente do tipo “velha política”, imagem que o deputado diz ser culpa dos jornalistas. Foi o que mostrou no Twitter no fim de agosto.

“Aos poucos eles (jornalistas) vão tentando girar a chave e pintar JB como um governante igual aos antecessores. Quando as pessoas forem hipnotizadas para ter este pensamento será o fim. Sairá o único presidente eleito sem amarras, capaz de mudar o sistema e entrará um bundão a servir este establishment“, tuitou o “zero três”.

Eduardo Bolsonaro. Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

A situação de Bezerra na Polícia Federal e na Justiça não parece que irá melhorar daqui em diante, devido às tensões entre bolsonarismo e lavajatismo. Significa que se o presidente mantiver o senador no cargo de líder governista, correrá o risco de perder apoiadores, caso estes não dêem bola para o apelo de Olavo de Carvalho de que o tema “corrupção” não é importante.

Bezerra atribui o aperto policial em cima dele e de seu filho Fernando, que é deputado pelo DEM, à guerra sobre a CPI da Lava Toga, cuja criação no Senado opõe o bolsonarismo e o lavajatismo. Este último tem como um de seus principais nomes em Brasília o ministro da Justiça Sérgio Moro, em tese o chefe da PF, apesar de o presidente dizer que é ele quem manda.

Outro representante do lavajatismo em Brasília é o juiz Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). As revelações da Vaza Jato, por exemplo, têm tido nele um combatente, volta e meia a dizer que os únicos felizes com as revelações são os corruptos. Foi Barroso quem autorizou a PF a fazer buscas e apreensões no gabinete de Bezerra.

A polícia queria não apenas fazer a batida, como pediu o confisco de bens do senador e do filho. A Procuradoria Geral da República concordava com o bloqueio, mesmo contrária a batida. Barroso não autorizou o confisco, apesar de ter escrito em despacho que a PF conseguiu reunir “indícios da prática de crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro” contra Bezerra.

O senador Flavio Bolsonaro, outro filho do presidente, trabalha para enterrar a CPI da Lava Toga. Idem Alcolumbre, aliado do clã Bolsonaro. Um senador favorável à CPI, Jorge Kajuru, de Goiás, foi ao STF com um mandado de segurança, para forçar Alcolumbre a instalar a comissão. O mandado caiu com o juiz Gilmar Mendes, abertamente contra a CPI.

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