‘Isso não é progresso, é assassinato’

Deputado federal e pastor que 'sobreviveu' a um aborto diz temer 'precedente' do STF e promete contra-ataque em forma de projeto de lei

O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) com a família. Foto: Arquivo Pessoal

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Por Marcelo Pellegrini

 

Uma carta da CNBB, lançada na Sexta-Feira Santa, convocou todos os bispos do Brasil para uma “Vigília de Oração pela Vida”. Era um protesto organizado às vésperas do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, da criminalização do aborto de anencéfalos, marcado para esta quarta-feira 11.

Embora evangélico, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) esperava que os colegas igreja e Congresso aderissem em peso à campanha lançada pela cúpula católica no Brasil.

Não foi o que aconteceu.


Perto do julgamento, ele se dizia decepcionado até mesmo com a bancada da qual faz parte devido à suposta falta de posicionamento sobre a questão.

 

Em entrevista a CartaCapital, o pastor Feliciano diz se considerar um instrumento de Deus no combate ao aborto e conta que ele mesmo sobreviveu a um quando nasceu. Ele avisa que, caso o STF se posicione de modo favorável à descriminalização, o contra-ataque será ensaiado no Congresso, por meio de um Projeto de Lei para criminalizar a decisão da mãe.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

CartaCapital: Caso favorável, a decisão do STF abre precedentes para outras decisões referentes ao aborto?


Marco Feliciano: Sem sombra de dúvida. Caso a decisão seja favorável à descriminalização do aborto em caso de anencefalia do feto será aberta uma brecha, principalmente, na cabeça das pessoas em relação a outras más formações.

Por exemplo, se uma criança nasce com uma má formação na orelha ou nasce com síndrome de down, no futuro, as mães podem pensar que essas características gerarão traumas para a criança e optarão pelo aborto.

Esse precedente não pode ser aberto. Isso não é progresso, é assassinato.

CC: Esse posicionamento não negligencia o risco que a gravidez pode causar e o direito de escolha da mãe?


MF: A vida tem que ser respeitada. A medicina pode cuidar da vida da mãe e do bebê. É uma questão de respeito à vida, de ética e de moral. A mãe não pode ter direito à vida do filho. O bebê é outra vida e não podemos matar uma criança, as crianças não podem ser punidas. As pessoas que defendem isso (descriminalização do aborto em casos de anencefalia) são pessoas que perderam a sensibilidade.

A vida é um dom de Deus. Deus dá e Deus tira.

CC: Em um artigo, o senhor criticou a bancada evangélica a respeito da falta de posicionamento sobre o tema. Existe um racha entre os congressistas religiosos?


MF: Não, acredito que houve um problema de comunicação. Houve falta de acompanhamento do assunto pelos congressistas da bancada em razão de muitas pautas circularem pela Câmara e da denúncia de corrupção contra nosso companheiro de bancada Demóstenes Torres.

Esse julgamento do STF deveria estar estampado em todas as igrejas evangélicas de forma organizada, como está fazendo a Igreja Católica.


CC: Caso o STF arbitre a favor da descriminalização, existe a possibilidade do Congresso criar um Projeto de Lei para retomar o assunto?


MF: Com certeza, o Legislativo vai se posicionar e cumprir sua função de legislar. A função do STF é de julgar de acordo com a lei criada pelo Legislativo.

Se a descriminalização for aprovada, vamos fazer barulho na Câmara e representar o desejo e a moral do povo que nos elegeu. E seja o que Deus quiser.

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