Política
Indígenas e ativistas marcham em Belém durante a COP30
Manifestantes pedem maior representação na COP e atenção a problemas como a preservação de seus territórios
Milhares de manifestantes, incluindo muitos indígenas, marcharam neste sábado 15 em Belém para pedir aos negociadores da COP30, reunidos nesta cidade amazônica, que ouçam suas demandas climáticas, após os povos originários denunciarem esta semana que se sentem excluídos.
Na mesa de negociações, o Brasil, anfitrião da conferência da ONU, continua em consultas com as delegações para tentar destravar temas de discórdia, entre eles, quem deve pagar a conta do desastre ambiental.
Desde as primeiras horas da manhã, os participantes reuniram-se para a “Marcha Global pelo Clima” nesta quente cidade de 1,4 milhão de habitantes, com cerca de 30.000 pessoas esperadas, segundo os organizadores.
“Viemos aqui para defender o clima, hoje vivemos um massacre com a nossa floresta que está sendo destruída. Queremos (…) resultados” na COP30 para a proteção das terras indígenas, disse à AFP Benedito Huni Kuin, de 50 anos, membro do povo indígena Huni Kuin, do oeste do Brasil.
Os primeiros a chegar estenderam uma bandeira brasileira gigante no centro da qual podia-se ler “Amazônia protegida”.
A caminhada prevista é de cerca de 4,5 quilômetros de um mercado local até um ponto próximo ao Parque da Cidade, sede da COP30 e protegido neste sábado por dezenas de militares e barreiras com arame.
Pela primeira vez desde a COP26 em Glasgow em 2021, o movimento ambientalista poderá se expressar livremente: as últimas três COPs foram realizadas no Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão, onde nenhuma ONG considerava seguro manifestar-se.
“Estamos aqui para mostrar que é o povo quem tem o poder, especialmente nesta semana, em que foi divulgado que algumas vozes foram excluídas do processo da COP e que muitas comunidades, incluindo indígenas, não sentem que fazem parte”, disse à AFP o britânico Tyrone Scott, da ONG War on Want.
Muito presentes na marcha, os povos indígenas da Amazônia foram protagonistas da primeira semana da COP após terem enfrentado na terça-feira as forças de segurança que protegiam a zona restrita de negociações.
Após uma queixa da ONU, as autoridades reforçaram a segurança no interior e exterior do Parque da Cidade.
Na sexta-feira, outro grupo de indígenas conseguiu marcar uma reunião com o presidente da COP, André Corrêa do Lago, que lhes prometeu respostas. Os indígenas pediram especialmente maior representação na COP e atenção a problemas como a preservação de seus territórios.
Alguns rejeitam diretamente a realização da conferência. “A invasão nesse pais é desde 1500 e essa COP é mais uma invasão, o retorno das caravelas com o capital estrangeiro e as multinacionais tomando nosso território”, denunciou na marcha Naraguassu Pureza da Costa, líder indígena da ilha de Marajó, a oeste de Belém.
‘Sessões de terapia’
O Brasil iniciou a COP na segunda-feira com o pé direito ao alcançar um consenso sobre a agenda da reunião, mas o fez à custa de adiar um problema: os temas mais espinhosos ficaram para ser discutidos à margem do debate formal.
Até sexta-feira, não havia avanços sobre esses pontos — financiamento climático, metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, transparência e barreiras comerciais — e as consultas continuam em andamento, disse à AFP uma fonte da equipe negociadora brasileira.
A presidência da COP deve revelar neste sábado o resultado desses diálogos.
Vários participantes consideram que cada parte permanece firme em suas posições e aguardam a chegada dos ministros na segunda-feira, que deverão buscar um consenso entre cerca de 200 países até 21 de novembro.
Um negociador africano espera que a presidência tome medidas. “Caso contrário, isso pode resultar em uma COP vazia”, alerta.
Segundo um diplomata ocidental sob anonimato, os brasileiros descreveram esta semana as discussões como “sessões de terapia” e pediram às delegações que informassem seus desejos em “cartas de amor”.
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