Política
Indicado por Bolsonaro, presidente da Caixa ordena boicote ao Nordeste
Do total de empréstimos liberados para governadores e prefeitos neste ano, houve apenas 2,2% aos nordestinos
O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, ordenou que o banco boicote municípios e estados da região Nordeste. É o que mostra um levantamento feito pelo Estadão/Broadcast com base nos números do próprio banco e do sistema do Tesouro Nacional, além da confirmação de fontes anônimas dentro da própria Caixa. Um detalhe fundamental: Guimarães foi indicado por Jair Bolsonaro, aquele mesmo que recentemente se referiu aos nordestinos como “paraíbas” durante um café da manhã.
Neste ano, o banco estatal liberou 4 bilhões de reais para governadores e prefeitos de todo o País. Desse total, apenas 2,2% foram para a região Nordeste. Em 2018, a região recebeu 1,3 bilhão de reais, o equivalente a 21,6% dos 6 bilhões fechados pela Caixa em operações para governos regionais.
A reportagem revelou ainda que a ordem para não contratar operações a estados e municípios nordestinos veio diretamente de Pedro Guimarães.
O Estadão/Broadcast apurou que há uma fila de pedidos de empréstimos para a região Nordeste que não foram autorizados pela instituição. Entre eles, o de um financiamento de 133 milhões de reais para a Prefeitura de São Luís (MA), para obras de infraestrutura. O pedido do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT) foi feito no dia 9 de maio e até hoje não houve uma resposta.
Para justificar a queda na participação do Nordeste, a Caixa afirmou à reportagem que as contratações das operações apresentam “sazonalidade ao longo do exercício” e também variação ano a ano, dependendo ainda do número de pleitos recebidos.
Alinhamento com Jair Bolsonaro
Em julho, durante um café da manhã com jornalistas, Bolsonaro – sem notar que o som ambientes estava sendo captado – soltou o seguinte comentário para o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni: “Daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”, disse referindo-se a Flávio Dino. Dito e feito, pelo andar da carruagem presidencial.
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