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O Piauí se prepara para abrigar a maior planta industrial de hidrogênio verde do mundo

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Localização estratégica. A Zona de Processamento de Exportação de Parnaíba, na cidade de Luís Correia, tem água em abundância e facilidade de transporte para a Europa – Imagem: Companhia Porto Piauí/GOVPI e iStockphoto
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Com uma matriz energética 100% renovável, o Piauí se consolida como o estado com maior potencial para a produção de hidrogênio verde no Brasil. Na quinta-feira 20, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) deu o aval para a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba, no município piauiense de Luís Correia, sediar o maior projeto de hidrogênio e amônia verdes do mundo. Com investimentos da ordem de 27 bilhões de reais e a promessa de gerar 3 mil empregos diretos ou indiretos, o empreendimento será liderado pela Solatio, empresa que atua na área de energia solar há 17 anos. O projeto aguarda apenas a chancela do Ministério de Minas e Energia para ter acesso à rede elétrica e iniciar as obras de instalação ainda no primeiro semestre deste ano. A previsão é que todas as etapas sejam concluídas até o final de 2028 e, no início de 2029, os produtos sejam lançados no mercado global.

Apontado como uma das principais alternativas para a descarbonização do planeta e a mitigação da crise climática, o H2V é o carro-chefe da economia sustentável na gestão de Rafael Fonteles. “Ele representa, a médio e longo prazo, uma mudança na base econômica do nosso estado. Somos hoje um dos maiores produtores de energias limpas (eólica e solar) do Brasil e, com a instalação da fábrica de hidrogênio verde, passaremos à fase de industrialização, agregando valor ao que produzimos e gerando riquezas, oportunidades de negócios e empregos”, afirma o governador.

O entusiasmo é compartilhado por ­Victor Hugo Saraiva, presidente da Investe Piauí. “Temos uma janela única para um processo robusto de industrialização a partir de produtos verdes. O Estado viveu uma primeira fase com a implantação da geração de energia renovável e, agora, passará a consumir parte dessa energia por meio da indústria verde”, destaca. “Isso abre um leque de oportunidades e novos negócios, pois teremos uma grande indústria sustentável como base para todas as demais que ainda virão”.

O processo de produção do H2V ocorre por meio da eletrólise, que consiste na quebra da molécula da água utilizando energia renovável. A disponibilidade de energia limpa é o grande diferencial na fabricação do produto, uma vez que 70% dos custos de produção estão atrelados ao consumo energético – fator que coloca o Piauí em vantagem em relação a outros estados. “Ali, na Foz do Rio Parnaíba, há água em abundância e a custo acessível. Além disso, o estado conta com excedente de energia renovável, sem falar na localização estratégica da nossa ZPE e na facilidade de transporte para a Europa”, diz Saraiva. Atualmente, dois terços da matriz energética do estado vêm da energia eólica, enquanto 27% são provenientes da energia solar, o que posiciona o Piauí na terceira colocação no ranking regional de produção de fontes renováveis. Quase 5% da energia piauiense é gerada por hidrelétricas, garantindo que toda a matriz energética do estado seja limpa e livre de combustíveis fósseis.

O projeto, liderado pela Solatio, prevê investimento de 27 bilhões de reais e deve gerar cerca de 3 mil empregos

Segundo Saraiva, o Piauí possui superávit energético. “Produzimos 7 ­gigawatts de energia e consumimos apenas 1. O projeto da Solatio vai demandar 1,5 giga, totalizando 2,5 gigas de consumo”. Serão produzidas anualmente 440 mil toneladas de hidrogênio verde e 2,2 milhões de toneladas de amônia, com exportação prioritária para a Europa e a Ásia. “Este é um passo decisivo para estabelecer o Brasil como um líder global nesse mercado”, afirma Pedro Vaquer, CEO da Solatio. “Nosso modelo integrado, que combina produção própria de energia renovável com a ­expertise de parceiros estratégicos, nos permite oferecer um produto competitivo, gerando valor localmente e contribuindo para a descarbonização da economia global”, completa o executivo, lembrando que o H2V pode ser utilizado diretamente como combustível ou como matéria-prima para a síntese de produtos como amônia, aço e metanol.

“O hidrogênio será transportado na forma de amônia porque já existe uma cadeia logística mundial bem estabelecida para esse produto. Ao chegar ao país de destino, pode ser reconvertido em hidrogênio ou seguir como amônia para fertilizantes e gasodutos das indústrias siderúrgicas”, salienta Saraiva. A estimativa é que o quilo do H2V produzido no Piauí tenha um custo médio de 3 dólares, menos da metade dos 7 dólares cobrados atualmente e o mesmo valor do chamado “hidrogênio cinza”, fabricado a partir de combustíveis fósseis. “As indústrias não querem migrar do cinza para o verde se for para pagar mais caro, e é aí que entra o nosso diferencial. Vamos conseguir produzir hidrogênio e amônia verdes pelo mesmo preço dos produtos feitos com energia suja, tornando nossa oferta altamente competitiva”, conclui o presidente da Investe Piauí.

Ao assinar o termo de autorização para a implantação do empreendimento, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, classificou o projeto como o mais importante já aprovado no Brasil para a produção de hidrogênio e amônia verdes. Segundo ele, com essa iniciativa, o Piauí assume a liderança na nova fase desenvolvimentista do País. “Trata-se de um grande investimento gerador de empregos, renda e promotor da descarbonização e da sustentabilidade. É isso que o mundo precisa, e o Brasil, hoje, é o grande protagonista dessa transição energética”.

Camila Ramos, vice-presidente de Investimentos e Hidrogênio Verde da Associação Brasileira de Energia Solar ­(Absolar), ressalta a importância do setor no enfrentamento da emergência climática. “O H2V tem grande potencial para reduzir as emissões de setores difíceis de descarbonizar, como a fabricação de fertilizantes, aço e combustível de navios. No contexto da transição energética e das mudanças climáticas, ele surge como um aliado estratégico. Grandes consultorias globais estimam que o hidrogênio verde pode atender a até 10% da demanda mundial de energia a partir de 2050.” •

Publicado na edição n° 1355 de CartaCapital, em 02 de abril de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Hub global’

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