Política

De Lula a Temer e talvez Maia, Henrique Meirelles segue no time

Desde 2003, ministro só foi para o “banco” no governo de Dilma Rousseff, mas pressão por sua escalação continuou

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Incertezas rondam o Planalto, o Congresso e grande parte dos edifícios ministeriais em meio ao possível afastamento de Michel Temer e a consequente ascensão de Rodrigo Maia como presidente interino. Há, porém, ao menos um prédio na Esplanada onde a crise política parece uma “marolinha”: o Ministério da Fazenda de Henrique Meirelles.

Recentemente, Meirelles encontrou-se com Maia enquanto era lido o relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) em favor da admissibilidade da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra Temer. Conversavam, segundo a versão oficial, sobre o pacote de socorro ao Rio de Janeiro, estado do deputado-presidenciável. Difícil imaginar que a sucessão do Planalto não tenha sido o tema principal.

A investidores e aliados, Meirelles havia afirmado em maio, no auge das revelações das delações da JBS, que acreditava na permanência de Temer no cargo, mas sinalizou sua continuidade na Fazenda caso o peemedebista não resistisse.

O ministro e a atual equipe econômica de Temer são a base mais estável do agora mambembe monólito político-econômico erguido no País após o impeachment de Dilma Rousseff. Pode se trocar o técnico, mas jamais o “craque”: com Temer ou Maia, a titularidade de Meirelles é dada como certa.

O consenso em torno de seu nome não é uma novidade. Em sua trajetória política, não houve força política que não tenha tentado “comprar seu passe”. Primeiro, veio o PSDB. Meirelles não chegou a compor a equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso, pois nos anos 1990 construía uma carreira de sucesso à frente do BankBoston nos Estados Unidos. Naquele período, o atual ministro da Fazenda chegou a ser um dos homens do ciclo próximo do então presidente norte-americano Bill Clinton.

De volta ao Brasil em 2000, Meirelles foi cortejado pelos tucanos. A legenda abriu as portas para o executivo do mercado financeiro concorrer ao cargo de deputado federal por Goiás em 2002, eleito na ocasião com o maior número de votos no estado. No ano seguinte, Lula, interessado em um nome que lhe desse aval junto ao mercado, o indicou para o Banco Central e garantiu sua renúncia do cargo e sua desfiliação da principal legenda de oposição a seu governo.

Nos dois governos de Lula, o atual ministro da fazenda ocupou a presidência do BC e só teve sua titularidade ameaçada quando manteve a política de aumento de juros em meio à crise econômica de 2008, durante a qual grande parte dos países optava pela redução de suas taxas. Ameaçado no posto naqueles anos, o então presidente do BC balançou, mas manteve-se no cargo.

Desde 2003, o único presidente a abrir mão das habilidades de Meirelles junto ao mercado foi justamente Dilma Rousseff. Em seu segundo mandato, Dilma optou inicialmente por Joaquim Levy, outro nome de peso no universo das finanças. O objetivo da escolha era estreitar laços com os agentes econômicos, enquanto o governo esforçava-se para aplicar o ajuste fiscal sob o olhar desconfiado da população, especialmente dos eleitores de Dilma.

Levy resistiu pouco mais de um ano no cargo, mas logo encontrou uma posição de prestígio: foi nomeado diretor financeiro do Banco Mundial em Washington menos de um mês após deixar a fazenda. 

Quando a permanência do titular da Fazenda começava a se tornar insustentável, Dilma teria sido aconselhada por Lula, segundo relatos da mídia à época, a trazer Meirelles para a pasta. A presidenta não cedeu à pressão por escalá-lo e optou por Nelson Barbosa, então ministro do Planejamento.

Ex-assessor de Levy, o jornalista e cientista político Rodrigo de Almeida narrou no livro “À Sombra do Poder” que a então presidenta não perdoava Meirelles por ter se oferecido em 2009 a Lula como candidato ao Planalto caso Dilma, então em meio a um tratamento de câncer, não tivesse condições de concorrer. O atual ministro da Fazenda nega a versão contada no livro.

Como Dilma rejeitou a contratação do ex-presidente do BC, outro time furou a negociação. No fim de março de 2016, após a divulgação do áudio de um diálogo entre Lula e Dilma no qual conversavam sobre a entrega de um termo de posse ao ex-presidente, o nome de Meirelles já era cogitado para o Ministério da Fazenda de Temer, que só assumiria semanas depois. 

Com Temer ou Maia, Meirelles segue no time. A reforma trabalhista já recebeu a canetada presidencial. A da Previdência, mais ousada em termos legislativos, é a conquista mais aguardada. Se a Presidência foi ou não um desejo do ministro no passado, hoje não parece tentador enfrentar eleições após aprovar um pacote de medidas bastante impopulares. Quem sabe o próximo técnico também não o escala?

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