Política

Haverá um voto útil “Ele Não” no Rio e em Minas?

Desconhecidos, candidatos que surfaram na onda de Jair Bolsonaro tinha rejeição baixa, mas devem herdar a aversão ao ex-militar de parte do eleitorado

Witzel estava ao lado dos parlamentares eleitos do PSL que rasgaram homenagem a Marielle
Apoie Siga-nos no

Uma imagem vale mais que mil votos, ou milhões. Responsáveis por rasgar uma placa que homenageava a vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano, Daniel Silveira e Rodrigo Amorim, do PSL, foram eleitos respectivamente como deputados federal e estadual, este último o mais votado no Rio de Janeiro.

A foto escondia um terceiro participante no ato em que os dois parlamentares eleitos rasgaram a homenagem à parlamentar do PSOL. Ao lado deles, estava Wilson Witzel, candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PSC que disparou nas últimas semanas ao declarar seu apoio a Jair Bolsonaro pouco antes do fim do primeiro turno.

Leia também:
Para Nature, eleição de Bolsonaro é ameaça à Ciência
Haddad recua de Constituinte, Bolsonaro fala em ‘canelada’ de Mourão

O apoio ao capitão reformado rapidamente o catapultou. Assim como ocorreu com Romeu Zema, do Novo, em Minas Gerais. Ambos conseguiram superar a marca de 40% dos votos válidos, da mesma forma que seu presidenciável. Apesar da trajetória crescente da dupla nas pesquisas, nada indicava uma performance tão consistente.

A velocidade com que Witzel e Bolsonaro cresceram em dois colégios eleitorais tão importantes revela um descompasso com a trajetória de Bolsonaro. Ao contrário do presidenciável, tinham rejeições baixíssimas nas últimas pesquisas divulgadas antes do primeiro turno, até por serem desconhecidos da maioria dos eleitores até então.

No Ibope de sábado 6, Witzel mostrava crescimento, mas registrava apenas 12% dos votos válidos. Sua rejeição na ocasião, segundo o instituto, era de apenas 9%.

Em Minas, Zema aparecia mais à frente que Witzel. Tinha 24%, segundo o Ibope, mas acabou por desbancar o atual governador Fernando Pimentel, do PT. Sua rejeição era de 18%, mais condizente com sua pontuação na pesquisa.

É preciso esperar as próximas pesquisas para saber se Witzel e Zema herdarão não apenas os votos do bolsonarismo, mas também sua rejeição. Bolsonaro teve 46% dos votos válidos, mas é rejeitado por mais de 40% da população, segundo as pesquisas de primeiro turno.

Não há como candidaturas amparadas no apoio ao presidenciável escaparem dessa herança. O objetivo da dupla será muito semelhante ao do candidato do PSL: manter os votos que conseguiram e desconstruir a rejeição herdada, amplificada pela campanha #EleNão.

Na entrevista ao Jornal Nacional, Bolsonaro já tentou reformular em parte seu discurso: criticou Mourão pela defesa de uma nova Constituição e de um “autogolpe”, e elogiou o Nordeste, onde perdeu para Fernando Haddad, do PT.

Os concorrentes de Zema e Witzel não terão vida fácil, até por carregarem a rejeição de aliados de longa data. Eduardo Paes buscou abrigo no DEM para tentar descolar sua imagem do ex-governador Sério Cabral, preso no Rio por diversos escândalos de corrupção. Já Antonio Anastasia, do PSDB, terá de lidar com a forte rejeição do eleitorado local a Aécio Neves, escondido pelos tucanos mineiros no primeiro turno apesar de sua eleição para a Câmara dos Deputados.

A rejeição de Paes antes do primeiro turno era de 33%, enquanto a de Anastasia era de 24%, de acordo com o Ibope. São indicadores que mostram potencial para estes nomes crescerem junto ao eleitorado avesso ao bolsonarismo. Não será missão fácil para o tucano e o demista absorverem o voto progressista de Tarcísio Motta, no Rio, e Fernando Pimentel, em Minas, mas o caminho está aberto para esses candidatos buscarem o apoio circunstancial dos eleitores de esquerda.

Não são apenas eleitores conservadores tradicionais que terão de refletir se o PT poderia ser um mal menor neste segundo turno da disputa presidencial. A esquerda também terá de avaliar se apoiar Paes ou Anastasia é justificável diante da campanha #EleNão. No primeiro turno, o voto útil antipetista quase deu a vitória à Bolsonaro e aos candidatos estaduais que o apoiam. No segundo, a rejeição a Bolsonaro poderá reverter o jogo?

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo