Política

Guerra de Bolsonaro contra o Ibama derruba presidente do órgão

Ministro e presidente sugeriram que houve fraude em contrato, o que levou ao pedido de demissão da chefe da entidade

(Foto: IBAMA)
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A presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Suely Araújo, pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira 7.

No domingo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, criticou pelo Twitter um contrato de 28 milhões de reais feito pelo órgão para a locação de veículos, que seriam usados para a fiscalização de crimes ambientais.

Suely assumiu o cargo no Ibama no governo do ex-presidente Michel Temer. A polêmica em torno do aluguel de caminhonetes começou com uma postagem do ministro questionando os valores do contrato, feito na última semana do ano. “Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só para o IBAMA….”, escreveu o ministro no Twitter.

No mesmo dia o presidente Jair Bolsonaro endossou a sugestão de que pode haver irregularidades no contrato, também pelo Twitter. Bolsonaro compartilhou o post do ministro, e disse que o governo está desmontando “montanhas de irregularidades”.

“Estamos em ritmo acelerado, desmontando rapidamente montanhas de irregularidades e situações anormais que estão sendo e serão COMPROVADAS e EXPOSTAS. A certeza é; havia todo um sistema formado para principalmente violentar financeiramente o brasileiro sem a menor preocupação!”, escreveu o presidente. A postagem, no entanto, se manteve por pouco tempo, e logo foi apagada.

A presidente do Ibama disse em nota que refutava com “veemência qualquer insinuação de irregularidade na contratação”e informou que o contrato previa aluguel de 393 caminhonetes adaptadas para fiscalização e atendimento a emergências ambientais (como incêndios), que seriam usadas nos 26 estados e no Distrito Federal.

Suely foi nomeada para órgão por Michel Temer (Foto: Agência Brasil)

“A acusação sem fundamento evidencia completo desconhecimento da magnitude do Ibama e das suas funções. O valor estimado inicialmente para esse contrato era bastante superior ao obtido no fim do processo licitatório, que observou com rigor todas as exigências legais e foi aprovado pelo TCU”, disse Suelly na nota.

Em resposta, Salles afirmou que não levantou suspeita sobre o contrato, mas que achou o valor alto.

Leia também: Antipresidente: o passo torto de Bolsonaro em 7 dias de governo

Investidas do presidente contra o Ibama

Essa não é a primeira vez que o presidente coloca em xeque a atuação do Ibama, principal órgão responsável pela fiscalização de crimes contra o meio ambiente.

Bolsonaro nomeara o advogado Ricardo Salles para o Ministério do Meio Ambiente. Ex-secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo, Salles se tornou, no seu curto mandato, de julho de 2016 a agosto de 2017, alvo de uma ação do Ministério Público por ter alterado ilegalmente o plano de manejo de uma área de proteção ambiental para favorecer setores econômicos.

É hora de acabar com a “indústria da multa” do Ibama, declarou Bolsonaro no Twitter. “Menos de um milhão de pessoas vivem nestes lugares isolados do Brasil de verdade, exploradas e manipuladas por ONGs”, acrescentou, sobre os povos indígenas.

Antes de tomar posse, Bolsonaro divulgou um vídeo onde fala em “multas extorsivas” aplicado pelo Ibama, e sugere que o órgão precisa estar mais alinhado ao agronegócio. Em 2012, ele foi multado em 10 mil reais por pescar em área proibida. Um ano depois, o então deputado apresentou projeto de lei que vetava porte de armas para fiscais ambientais.

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