Política
Guarda Municipal de Porto Alegre ataca vereadores de esquerda e manifestantes com balas de borracha
A repressão aconteceu durante protesto na quarta-feira; parlamentares exigem renúncia de presidente da Câmara


Cinco vereadores e um deputado estadual de partidos de esquerda ficaram feridos após serem atingidos por balas de borracha e spray de pimenta disparados pela Guarda Municipal de Porto Alegre durante manifestação na porta da Câmara Municipal da capital gaúcha na quarta-feira 15. Os parlamentares afirmam que a repressão foi ordenada pela presidente da Câmara, Comandante Nádia (PL), e exigem que ela deixe o cargo.
O episódio aconteceu quando manifestantes tentavam entrar na sede do legislativo municipal para protestar contra dois projetos que estavam em pauta: a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) e uma proposta que restringe a atuação dos catadores na cidade. Eles foram proibidos de participar da sessão pois, segundo Nádia, a Câmara estava lotada.
Após a proibição, parte dos manifestantes tentou entrar no prédio, e os agentes da Guarda Municipal começaram a usar bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. Os parlamentares de esquerda que tentaram impedir a ação violenta também foram atingidos.
A vereadora Atena Roveda (PSOL), atingida com spray de pimenta no rosto, passou mal e desmaiou. Ela precisou ser levada de ambulância. Outra vereadora, Grazi Oliveira (PSOL), levou tiros de balas de borracha na perna e também por spray de pimenta.
A também vereadora Natasha Ferreira (PT) foi atingida por bomba de gás lacrimogêneo e spray de pimenta no rosto. Em postagem em uma rede social, ela registrou parte dos ataques que sofreu.
“Esse é o tipo de gestão que a Nádia está fazendo na Casa. Esses autoritários estão jogando bomba em vereador. Isso é o auge do autoritarismo nessa Casa”, afirmou. Enquanto gravava o vídeo, ela precisou correr dos agentes da Guarda Municipal.
Os outros parlamentares atacados foram os vereadores Erick Dênil (PCdoB), ferido após tiros de bala de borracha na perna; Giovani Culau (PCdoB), que também levou tiro de bala de borracha na perna e precisou ser atendido no ambulatório da Câmara; e o deputado estadual Miguel Rossetto (PT), atingido por bala de borracha nas costas. Rossetto já foi ministro do Trabalho, da Secretaria-Geral da Presidência e do Desenvolvimento Agrário em governos de Lula e Dilma.
“Foi uma vergonha o que aconteceu. Eu, vereador eleito, tomei dois tiros. Isso demonstra o autoritarismo da extrema-direita, que nem sequer respeita vereadores de oposição. Que jogou bomba em servidores, trabalhadores, catadores de lixo. Essa é a característica da extrema-direita em Porto Alegre. Nosso prêmio por defender a classe trabalhadora é isso aqui: bala e mais bala”, disse Dênil.
Em nota conjunta, vereadores de oposição exigiram a renúncia de Comandante Nádia, considerada “responsável política e institucional por essa barbárie”. “Não aceitaremos que a Câmara se torne palco de autoritarismo, repressão e violência contra quem luta por direitos”, diz o texto. A nota está disponível na íntegra neste link.
A presidente da Câmara afirmou que o episódio foi um “tumulto”. “O parlamento é o espaço legítimo de debate e divergências, mas jamais de desordem e desrespeito a qualquer tipo de regra. Aqui é lugar de debate, discussão, divergência, convergência, mas não de tumulto”, afirmou a jornalistas após o episódio.
O prefeito Sebastião Melo (MDB), a quem a Guarda Municipal é subordinada, determinou a abertura de inquérito sobre o caso. “O procedimento deverá averiguar todos os elementos que contribuíram para o ocorrido, incluindo as imagens de câmeras corporais dos agentes de segurança”, publicou nas redes sociais.
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