Política
Sem poder contar com os EUA, Guajajara defende cooperação internacional nas negociações climáticas
Embora admita que a omissão americana dificulta avanços, a ministra vê a articulação de novos parceiros e protagonismo indígena como caminhos possíveis


Em meio à preparação do Brasil para sediar a COP30, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que a cooperação internacional será decisiva para o avanço das políticas de enfrentamento às mudanças climáticas, especialmente diante da ausência de protagonismo dos Estados Unidos nas negociações.
A falta de engajamento norte-americano, destacou a ministra, tem travado acordos multilaterais e limitado o alcance de políticas ambientais de impacto global. “É muito difícil alcançar os avanços esperados sem os Estados Unidos”, admitiu ela nesta terça-feira 7, durante um café com jornalistas promovido pela pasta. “Mas precisamos chamar outros países e destacar a importância de investir recursos contra a mudança climática.”
Nesse sentido, Guajajara destacou que os avanços do Fundo Tropical das Florestas Para Sempre (TFFF), que está sendo estruturado com uma governança nacional em cada país participante e garantindo a participação dos povos indígenas nas decisões. Segundo a ministra, quarenta países que participaram da reunião sobre mudanças climáticas em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU, já demonstraram interesse em aderir à iniciativa.
Marco Temporal
A ministra também voltou a criticar o marco temporal, classificando-o como “uma assombração” e um grande impeditivo à demarcação de terras indígenas. Ela lembrou que o Congresso Nacional aprovou a lei e derrubou o veto do presidente Lula (PT), e lamentou a falta de avanços na Câmara de Conciliação do Supremo Tribunal Federal.
Guajajara também reforçou a necessidade de consultas e consentimento prévios em projetos de exploração de petróleo na Amazônia, defendendo o respeito aos direitos territoriais e ambientais dos povos originários.
COP30
Além das discussões políticas e indígenas, a COP30, que ocorrerá de 10 a 21 de novembro de 2025 em Belém (PA), será palco de uma agenda climática com múltiplas frentes. O governo brasileiro espera reunir cerca de 3 mil indígenas, distribuídos entre os debates oficiais e a “Aldeia COP”, espaço cultural instalado na Universidade Federal do Pará. A ideia é registrar a maior presença indígena da história das conferências climáticas.
Guajajara ressaltou ainda que o governo brasileiro quer ampliar a presença indígena nos espaços de decisão climática e sensibilizar outros países para fortalecer a pauta ambiental. “Há um negacionismo climático, assim como já houve um negacionismo da democracia. O presidente Lula mostra que devemos priorizar o combate às mudanças climáticas, em vez de investimentos em armas e guerras”, concluiu.
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