Política
Greve geral, entre o combate às reformas e o “Fora Temer”
A rejeição às mudanças na CLT e na Previdência atrai mais a sociedade do que a defesa das Diretas Já. Parte do PT prefere Temer enfraquecido no poder
Apesar da denúncia de corrupção apresentada contra o presidente Michel Temer pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, a greve geral marcada para a sexta-feira 30 tende a se concentrar menos na defesa da renúncia ou do afastamento do peemedebista e mais no combate às reformas em tramitação no Congresso, em especial a trabalhista e a previdenciária.
Eis as razões. Parte dos organizadores da greve acredita que o combate às reformas angaria mais apoio na sociedade do que a defesa das “Diretas Já”. Todas as pesquisas de opinião realizadas nos últimos meses indicam um repúdio majoritário, quase unânime, às mudanças na CLT e na Previdência propostas pelo governo. No levantamento de alguns institutos, a rejeição beira os 90%.
O mesmo não acontece no caso das “Diretas Já”. Os antipetistas e antilulistas, concentrados nas faixas de maior renda, estão convencidos de que uma antecipação das eleições levaria o ex-presidente de volta ao Palácio do Planalto. Preferem ver o País se consumir em uma crise política sem fim, com efeitos escabrosos na economia, a flertar com o risco de assistir à recondução de Lula à presidência da República. Por isso, o silêncio das panelas.
Os antipetistas associam as Diretas Já ao Volta, Lula (Foto: Filipe Araújo/Fotos Públicas)
O último Datafolha só fez aumentar esse temor. Diante do fracasso absoluto do governo Temer, das evidências de corrupção do próprio presidente e de seus principais auxiliares e da falta de perspectiva econômica, Lula e o PT continuam a se fortalecer. O ex-presidente lidera bate a maioria dos adversários em qualquer cenário. Só empata tecnicamente na simulação de segundo turno com Marina Silva e o juiz Sergio Moro. O partido, por sua vez, voltou a crescer na preferência do eleitorado: 18% dos brasileiros declararam preferir a legenda, mais do que o triplo das citações ao PSDB e ao PMDB.
Por conta desse desempenho, uma parcela expressiva do PT se aproxima taticamente de seus adversários na sociedade civil, os antipetistas: não se anima com as eleições diretas e prefere manter Temer enfraquecido no poder. Acuado, raciocina esse grupo do partido, o peemedebista não teria fôlego para aprovar as reformas prometidas ao mercado financeiro. O fracasso levaria à piora do humor dos agentes econômicos. Além disso, a denúncia apresentada na noite da segunda-feira 26 pela Procuradoria Geral da República contra o presidente não deve ser a única, o que ampliará a crise em Brasília. A falta de perspectiva, na economia e na política, alimenta na população a saudade do período de crescimento do PIB e inclusão social experimentado durante os mandatos de Lula.
Não deixa de ser uma ironia.
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