Política

Greve de 18 de agosto eleva qualidade das mobilizações contra Bolsonaro, avaliam lideranças

Expectativa é de que haja menos atos de rua do que nos últimos quatro protestos, mas cresce possibilidade de que outras categorias paralisem

Manifestações contra Bolsonaro em 24 de julho reuniram milhares de pessoas. Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas
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Depois de quatro manifestações de rua realizadas em sábados desde 29 de maio, o País chega em agosto com um perfil diferente de mobilização contra o presidente Jair Bolsonaro. Nesta quarta-feira 18, servidores públicos das três esferas realizam uma greve contra a reforma administrativa, que tramita no Congresso Nacional por meio da Proposta de Emenda Constitucional 32/2020.

O texto está sob análise de uma comissão especial da Câmara dos Deputados e ainda deverá ser apreciado pelo Senado. O governo sustenta que a reforma irá retirar privilégios, mas esses trabalhadores argumentam que as medidas podem prejudicar o serviço público oferecido à população, como na saúde e na educação.

Lideranças ouvidas por CartaCapital dizem que os setores com maior adesão à greve são o da educação e o do Judiciário. Há ainda a expectativa por ações de metalúrgicos, bancários, químicos e profissionais dos Correios.

A decisão de marcar a paralisação em uma quarta-feira se deu porque não faria sentido executá-la em um sábado, já que a maioria dos servidores trabalha durante a semana. Porém, há dificuldades para atrair trabalhadores, especialmente os que estão em home office, como os profissionais da Previdência e dos ministérios.

Pedro Armengol, diretor da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal, ligada à Central Única dos Trabalhadores, estima que pelo menos 30% dos servidores federais estão trabalhando de casa, muitos deles sem carga horária definida. Essas condições, segundo ele, não colaboram para que a paralisação tenha efeito, porque, mesmo que desliguem suas máquinas no dia, aqueles que são cobrados por tarefas terão de entregá-las em seguida.

De acordo com o sindicalista, os participantes das mobilizações entregaram, nos últimos dias, um documento contrário à reforma ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e  ao relator do texto na comissão especial, Arthur Maia (DEM-BA).

Na toada do presidente da CUT, Sérgio Nobre, que disse recentemente que a paralisação dos servidores pode semear uma greve geral, Armengol avalia que o dia 18 de agosto “é um esquenta” e que a pauta da greve geral está no radar, especialmente entre os bancários e os profissionais dos Correios.

“Isso está no nosso norte”, declarou, em entrevista a CartaCapital. “É um processo de construção. Nós estamos com vários mecanismos de discussão e esperamos ter as condições objetivas para convocar uma greve geral da classe trabalhadora, contra as medidas e contra o governo Bolsonaro.”

Atnagoras Lopes, secretário-executivo da CSP-Colutas, considera, no entanto, que as grandes centrais sindicais, como a CUT, seguem atrasadas na mobilização para uma greve geral. Em diversas oportunidades, ele reclamou da falta de ação dessas organizações.

Em relação ao tamanho da mobilização de 18 de agosto, Lopes diz que há consciência de que o número de pessoas envolvidas pode ser menor. Enquanto cerca de 400 cidades registraram atos em cada uma das quatro datas desde maio, 67 cidades haviam confirmado algum ato de rua no dia da greve dos servidores, até a noite de terça-feira 17. Ainda assim, diz ele, há outra qualidade nesse perfil de mobilização, que pode impulsionar novas paralisações em outras categorias, como na indústria.

“É provável que, num dia de semana, haja menos gente nos atos. Quantitativamente, eu poderia dizer que eles vão ser menores. Agora, é de qualidade o ensaio que está sendo feito, com um setor em greve”, diz ele.

Para Márcio Alves de Oliveira, coordenador estadual do Sindicato Nacional dos Servidores Federais em São Paulo, era preciso chamar uma greve contra a reforma administrativa porque nem todas as forças que compõem as manifestações contra Bolsonaro fazem oposição às mudanças no serviço público.

Oliveira também avalia que é necessário combinar as manifestações com a articulação de paralisações dos trabalhadores. Em sua visão, há uma conjuntura que permite que esse processo tome corpo ao longo dos próximos dois meses, duração esperada pelos servidores para a tramitação da reforma administrativa no Congresso.

“É um movimento fundamental para capilarizar a luta contra Bolsonaro na classe trabalhadora, começando por aqueles que ainda não foram tão precarizados como na iniciativa privada”, disse. “Há potencial de ganhar outro patamar que mexa com o empresariado.”

A Campanha Fora Bolsonaro, que centrou nesta quarta-feira sua principal agenda de agosto, convoca a próxima manifestação para o feriado de 7 de setembro, Dia da Independência, quando, tradicionalmente, os movimentos sociais realizam atos pelo “Grito dos Excluídos”.

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