Política
Governo vê ‘respiro técnico’ no Senado com escolha de Alessandro Vieira para relatar PL Antifacção
Planalto aposta em perfil moderado do senador e na articulação de Randolfe Rodrigues para recuperar trechos suprimidos na Câmara
O governo federal recebeu com certo alívio a decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), de designar o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) como relator do Projeto Antifacção na Casa. A avaliação no Planalto é de que Vieira, conhecido pelo trato técnico e pelo perfil moderado, tende a conduzir uma análise menos politizada do texto aprovado pela Câmara sob relatoria do deputado Guilherme Derrite (PP-SP).
Vieira é relator da recém instalada CPI do Crime Organizado e é ex-delegado da Polícia Civil. Alcolumbre chegou a afirmar que recusou a relatoria do PL Antifacção para dois senadores da oposição: o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e o senador Sergio Moro (União-PR).
Nos bastidores, auxiliares do presidente Lula (PT) afirmam que a escolha de Vieira abre uma “janela de racionalidade” para discutir pontos que, segundo o governo, distorceram o propósito original do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A principal expectativa é recuperar a tipificação explícita de facções criminosas, reforçar salvaguardas sobre o confisco de bens e rever o desenho de fundos de segurança pública – temas que sofreram alterações no parecer de Derrite.
A articulação com Vieira ficará sob comando do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), que já iniciou contatos preliminares. A avaliação é de que o senador apresenta maior disposição para diálogo e tem trânsito amplo entre governistas e independentes, o que pode reduzir o desgaste enfrentado pelo Executivo na Câmara.
No Planalto, a leitura é de que a tramitação no Senado deve avançar em ritmo mais lento e com maior espaço para negociações. A expectativa é que o texto retorne à Câmara apenas após um período de “descompressão política”, aumentando as chances de ajustes pactuados com o relator.
Apesar da derrota na votação da Câmara, interlocutores do governo consideram que o Senado representa o “momento decisivo” para reequilibrar o projeto e realinhar o pacote de segurança pública ao que havia sido originalmente proposto pelo Executivo.
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