Política

Governo teme enfrentar crise como Macri na Argentina

Será o efeito sem a aprovação rápida da reforma da Previdência, “propositalmente escondida antes”, segundo o novo ministro da Educação

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A Argentina viu em 2018 sua economia encolher 2,5%, uma inflação recorde em 27 anos (47%) e a pobreza subir de 25% para 32% da população urbana. Neste ano, seu PIB recuará de novo, 1,2%, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI), organismo que emprestou 57 bilhões ao país para ajudar a evitar que coisas piores aconteçam.

No Brasil, o governo Bolsonaro teme que um cenário de crise como a vivida pelo vizinho ocorra por aqui. Um receio exposto pelo novo ministro da Educação, o economista Abraham Weintraub, ao participar em dezembro, em Foz do Iguaçu, de uma Cúpula Conservadora das Américas. Na época, Weintraub era da equipe que fazia a transição do governo Temer para o do ex-capitão.

“O caso da Argentina e do governo Macri é discutido abertamente na equipe. Inclusive o Eduardo Bolsonaro é prova. É uma das coisas que a gente falava: a gente tem que entrar e rapidamente atacar o problema fiscal e as reformas. Não dá para fazer gradual. Por que se não, o que acontece? Vai ser exatamente como foi na Argentina. Hoje o Macri está administrado uma crise atrás da outra.”

O presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Argentina, Mauricio Macri, no Palácio do Itamaraty. (Foto: Marcelo Camargo/EBC)

Na visão do “mercado”, o presidente Mauricio Macri fez de forma muito gradual um ajuste fiscal de cunho neoliberal (enxugamento do Estado). Descrentes de que lucrariam rios de dinheiro, investidores estrangeiros saíram do país a partir do fim de 2017. O preço da moeda americana disparou e provocou os estragos econômicos desde então.

O coração do ajuste fiscal do governo Bolsonaro é a reforma da Previdência. É ela que precisa ser aprovada logo, ainda em 2019, quando Weintraub diz que “a gente tem que entrar e rapidamente atacar o problema fiscal e as reformas”. É em cima dessa reforma que repousa a estratégia econômica do governo. Se aprovada, detonaria uma onda de investimentos, crê o governo.

Volta PT, não volta PT

Na eleição, Jair Bolsonaro fugia do tema “reforma”. Paulo Guedes, então “posto Ipiranga”, hoje ministro da Economia, falava pouco a respeito. Onix Lorenzoni, atual chefe da Casa Civil, de quem Weintraub era braço direito até ir para o MEC, dizia: “Essa eleição não é de propostas”, é um “plebiscito: volta PT, não volta PT”.

Tentar fazer da eleição um plebiscito sobre o PT era mais do que estratégia. Era uma necessidade para Bolsonaro. Mexer nas aposentadorias é tema impopular, daí ter sido uma ideia ocultada pelo bolsonarismo, conforme outra revelação de Weintraub em Foz do Iguaçu. “A reforma está sendo propositalmente escondida para evitar tiroteio desnecessário antes. Mas está bem avançada.”

 

Na Argentina, o desastre econômico de Macri conseguiu uma façanha. Se até um tempo atrás a ex-presidente Cristina Kirchner, atual senadora, era a política de proa mais rejeitada por lá, motivo da vitória de Macri em 2016, agora é o contrário. O presidente está encrencado para disputar a reeleição em outubro. Um cenário revelado por uma pesquisa recente.

A pesquisa é do instituto Taquion e foi noticiada em 7 de abril pelo jornal Clarín, o mais tradicional da Argentina, inimigo do kierchnerismo. Para 48% dos argentinos, o “cenário que gera mais temor” é a reeleição de Macri. E são 34% os que pensam que o pior seria a volta de Cristina.

Em uma outra pergunta, 55% defendem mudança de governo, sendo 44% favoráveis à mudança total e 11% a uma que preserve certas coisas da gestão Macri.

A demora e a resistência do Congresso brasileiro em votar a a reforma da Previdência já levam o “mercado” a refazer as contas e o otimismo. Os bancos consultados toda semana pelo Banco Central (BC) preveem agora em abril crescimento do PIB de 1,9% este ano. Há previsões mais pessimistas, próximas de 1%. Em janeiro, apostavam, em média, em 2,5%.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reviu nesta quinta-feira 11 sua previsão. Agora é de 2%. No fim de 2018, apostava em 2,7%.

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