Governo exonera secretário de Ciência e Tecnologia que é contra novo protocolo da cloroquina

Antonio Carlos Campos de Carvalho pediu demissão na segunda-feira 18, dois dias após a saída do então ministro Nelson Teich

Presidente Jair Bolsonaro defende uso da cloroquina em transmissão ao vivo nas redes sociais. Foto: Reprodução/Facebook

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O governo exonerou, nesta sexta-feira 22, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Antonio Carlos Campos de Carvalho. Ele pediu demissão do cargo na segunda-feira 18, dois dias após a saída do ministro Nelson Teich. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União “a pedido”, conforme decreto assinado pelo ministro da Casa Civil, general Walter Souza Braga Netto.

Carvalho chefiava uma área responsável pelo desenvolvimento da capacidade científica, tecnológica e produtiva nacional para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde. Ele ficou no cargo por 18 dias e sua saída tem relação com o debate sobre a cloroquina.

Em entrevista concedida à Folha de S. Paulo, o secretário afirmou que não participou da mudança de protocolo sobre o medicamento. “Não participei da elaboração do documento e nem participaria. No momento em que o ministro pede para sair e as coisas começam a se agravar, com interferência direta em decisões que não se baseavam em critérios científicos, não dava para continuar”, afirmou à reportagem.

Carvalho também mostrou preocupação em relação aos pacientes em estágio inicial, bem como falou sobre possíveis custos desnecessários ao sistema, “sem ter a certeza de que isso vai trazer benefício aos pacientes e com os riscos de eventos adversos muito graves”.

O Ministério da Saúde anunciou na quarta-feira 20 o protocolo que libera no SUS o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina até para casos leves de Covid-19. O texto mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio.


A liberação da medicação para pacientes em estágios iniciais da doença acontece sem evidências científicas de sua eficácia, conforme vem divulgando diversos estudos internacionais. A Sociedade Brasileira de Infectologia não recomenda o uso.

Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, o uso da cloroquina e a pressão pela mudança do protocolo pelo Ministério da Saúde foi motivo de atrito entre ele e os ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandettta e Nelson Teich, que saíram dos cargos.

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