Política
Governo baiano rebate vídeo de cadáver publicado por Flávio Bolsonaro
Autoridades questionaram veracidade de vídeo publicado por senador, em que aparece suposto corpo de Adriano da Nóbrega


O governo da Bahia rebateu as imagens publicadas nesta terça-feira 18 pelo senador Flávio Bolsonaro, com o suposto corpo do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em 9 de fevereiro no estado nordestino. O filho do presidente Jair Bolsonaro havia questionado as declarações da perícia sobre não ser possível afirmar se o miliciano foi torturado.
“Perícia da Bahia (governo PT) diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/ cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões”, escreveu o senador.
Em vídeo, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, afirmou que a publicação das imagens tem o objetivo de questionar um trabalho que ainda não foi concluído e que tem prazo para ser finalizado.
“Nós fomos em estados para comentar o resultado da perícia, que foi amplamente colocado pelo perito que não havia sinais de execução, nem sinais de tortura, no corpo que foi avaliado. Temos ainda outras perícias a serem realizadas, oitivas que estão sendo feitas pela autoridade policial”, disse Barbosa.
Já o diretor do Instituto Médico-Legal (IML) da Bahia, Mário Câmara, declarou-se “surpreendido” com as imagens. Segundo ele, a filmagem não foi autenticada pela perícia, não é possível dizer se o vídeo foi adulterado, nem se o corpo é mesmo de Adriano da Nóbrega.
Segundo Câmara, o laudo pericial descreve exatamente os orifícios de entrada e de saída, a trajetória dos projéteis e a angulação.
“Não há nenhum sinal de tortura no corpo. Nós procuramos rotineiramente por isso. Não há sinal, no corpo, de execução. Há sinal, sim, pela angulação dos projéteis, de um confronto com a polícia”, disse. “Essas filmagens que estão aparecendo não são técnicas. São argumentações de leigos que nos ofendem bastante.”
O Ministério Público apresentou pedido à Justiça da cidade de Esplanada, no interior baiano, para garantir que o corpo do miliciado seja mantido “intacto”. O objetivo é realizar um novo exame pericial complementar. A solicitação foi feita pelos promotores de Justiça Dario Kist e Gilber de Oliveira, depois que o juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio, determinar que a conservação do corpo não era mais necessária, na segunda-feira 17.
Nesta terça-feira 18, o presidente Jair Bolsonaro pediu perícia independente no cadáver de Adriano da Nóbrega.
“É o primeiro passo para começar a desvendar as circunstâncias em que ele morreu e por quê. Poderia interessar para alguém a queima de arquivo. Contra quem ele teria para falar? Contra mim que não era nada. Contra mim teria certeza que os cuidados seriam outros para preservá-lo vivo”, afirmou.
A família do miliciano pediu na Justiça o direito de cremar o corpo, mas a solicitação foi negada por ausência de documentos. A medida, ainda em vigor, não impede que o cadáver seja sepultado.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.