Política
Governador do Tocantins é afastado do cargo por suspeita de desvio de verbas na pandemia
Wanderlei Barbosa é alvo de operação da Polícia Federal após investigações do STJ; a esposa dele, que é secretária no governo, também foi afastada. Agentes realizaram buscas em gabinetes de ao menos 10 deputados estaduais


O governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), foi afastado do cargo nesta quarta-feira 3, acusado de desvio de verbas públicas durante a pandemia de Covid-19. O prejuízo passa de 73 milhões de reais, segundo as investigações.
Também foi afastada do cargo a secretária de Participações Sociais do governo tocantinense, Karynne Sotero, esposa de Barbosa. Os afastamentos são válidos, a princípio, pelo prazo de seis meses.
Houve, ainda, ações de busca e apreensão nos gabinetes de ao menos dez dos 24 deputados estaduais do Tocantins, segundo a Assembleia Legislativa do estado (Aleto). Entre eles estão o presidente da Casa, deputado Amélio Cayres (Republicanos); o 1º vice-presidente, Léo Barbosa (Republicanos); o 2º vice-presidente, Cleiton Cardoso (Republicanos) e o 1º secretário da Mesa, Vilmar de Oliveira (Solidariedade).
Também foram alvos operação a deputada estadual Claudia Lelis (PV) e os deputados Ivory de Lira (PCdoB), Jorge Frederico (Republicanos), Nilton Franco (Republicanos), Olyntho Neto (Republicanos) e Valdemar Júnior (Republicanos). A Aleto informou que os servidores da Casa prestaram “colaboração total e irrestrita” aos agentes.
A operação, realizada pela Polícia Federal (PF), acontece em consequência de investigações que correm em sigilo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo a PF, há “fortes indícios” do esquema, que teria ocorrido entre 2020 e 2021. A decisão pelo afastamento do governador foi assinada pelo ministro Mauro Campbell, do STJ.
“Os investigados teriam se aproveitado do estado de emergência em saúde pública e assistência social para fraudar contratos de fornecimento de cestas básicas”, destaca a PF. O dinheiro desviado teria sido usado, segundo o inquérito, para compra de imóveis de luxo, cabeças de gado e pagamentos de despesas pessoais dos envolvidos.
Em nota, Barbosa disse que a decisão é “precipitada” e que vai recorrer. “É importante ressaltar que o pagamento das cestas básicas, objeto da investigação, ocorreu entre 2020 e 2021, ainda na gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesa”.
O governador afastado disse ainda que, por sua determinação, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Controladoria-Geral do Estado (CGE) abriram auditoria sobre os contratos investigados e encaminharam as informações às autoridades competentes.
Em agosto de 2024, Barbosa já tinha sido alvo de outra operação da PF sobre as mesmas denúncias. Na ocasião, ele negou participação no esquema e disse que não autorizava os pagamentos.
Na operação desta quarta, mais de 200 agentes cumprem 51 mandados de busca e apreensão para coleta de novas provas, em Palmas e Araguaína, no próprio Tocantins, além do Distrito Federal, Imperatriz (MA) e João Pessoa (PB).
Com o afastamento de Barbosa, o governo fica agora a cargo do vice, Laurez Moreira (PSD).
Quem é Wanderlei Barbosa
Hoje governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa foi vereador da cidade de Porto Nacional, na região metropolitana de Palmas, e também da própria capital, onde atuou na Câmara Municipal por cinco mandatos.
Foi, ainda, deputado estadual por dois mandatos, até ser eleito vice-governador em 2018. Em 2021, assumiu o governo após o afastamento de Mauro Carlesse (PP), que foi acusado de pagar propina por obstrução de investigações sobre supostas irregularidades no governo.
Em 2022, Carlesse foi definitivamente afastado do cargo. No mesmo ano, Barbosa foi eleito em primeiro turno para um novo mandato.
Em junho deste ano, Barbosa esteve em Israel, onde, segundo a comunicação oficial do governo, participou de “agendas diplomáticas, institucionais e técnicas com foco em inovação, agricultura e cibersegurança”.
Com informações da Agência Brasil
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