Política
Gestão Nunes dá 15 dias para despejar o Teatro de Contêiner; artistas cobram intervenção do MinC
A companhia afirma que não pretende abandonar o terreno e vê gentrificação disfarçada e apagamento. ‘Estamos consternados com tamanha violência’


A Prefeitura de São Paulo determinou um prazo de 15 dias para que o Teatro de Contêiner Mungunzá, um dos mais tradicionais da capital, desocupe o terreno em que se encontra na região da Santa Ifigênia, no centro.
A notificação extrajudicial, assinada pelo subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles, foi emitida na segunda-feira 26 e recebida pelo grupo dois dias depois. O documento sustenta que a área, pertencente ao município, será usada para a construção de moradias de interesse social.
“A municipalidade tem trabalhado exaustivamente para combater os problemas de moradia na cidade de São Paulo. Desse modo, entende que a área onde está o Teatro de Contêiner é estratégica para um novo programa habitacional”, diz o texto.
Um dos líderes da trupe, o ator e produtor Marcos Felipe recusou-se a assinar a notificação e afirmou que a companhia tenta dialogar com a gestão municipal há mais de um ano, sem êxito. Ouvido por CartaCapital, o artista contesta a justificativa oficial. “A gente sabe que a PPP de Habitação, que tem aumentado nos últimos anos, serve para o processo de elitização do centro da cidade e para a expulsão da população mais vulnerável para as bordas da cidade”, critica, acusando a gestão Ricardo Nunes (MDB) de tentar apagar o teatro. “É uma forma muito violenta de se tratar a cultura.”
Instalado desde 2016 em 11 contêineres marítimos na rua dos Gusmões, o Teatro de Contêiner Mungunzá já realizou mais de 4 mil atividades e acumula prêmios nacionais e internacionais pela proposta inovadora. “Estamos consternados com tamanha violência da Prefeitura de São Paulo diante um bem imaterial da cidade, que deveria ser amplificado, regularizado, ser visto como um parceiro. Ao invés disso, a Prefeitura quer destruir o espaço para construir mais um prédio”, completa o artista.
A companhia afirma que não pretende abandonar o terreno. “Não vamos sair; o trator terá de passar por cima da gente”, diz o artista, que pede mobilização da sociedade civil, da classe artística e mediação do Ministério da Cultura, comandado por Margareth Menezes. “O rolo compressor está passando por cima de todos nós.”
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