Economia

Galípolo e Campos Neto trocam gentilezas em última coletiva antes da transição no BC

Apresentação do relatório de inflação foi, na prática, uma cerimônia de passagem de bastão, com elogios mútuos e foco no câmbio

Galípolo e Campos Neto trocam gentilezas em última coletiva antes da transição no BC
Galípolo e Campos Neto trocam gentilezas em última coletiva antes da transição no BC
Galípolo (à esquerda na foto) vai ocupar a cadeira que foi de Campos Neto por seis anos – Foto: Jose Cruz/Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

O atual e o futuro presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo, participaram de uma entrevista coletiva nesta quinta-feira, 19, no último pronunciamento antes da troca de comando da autoridade monetária. Galípolo, indicado por Lula, e Campos Neto, nomeado pelo então presidente Jair Bolsonaro, trocaram elogios diante dos jornalistas.

O encontro teve como objetivo formal a apresentação do relatório de inflação do quarto trimestre, mas funcionou, na prática, como uma cerimônia simbólica de passagem de bastão. Campos Neto anunciou que entra em recesso após esta sexta-feira, enquanto Galípolo assume a cadeira como interino. A partir de janeiro de 2025, ele será efetivado como titular.

Na abertura da coletiva, Campos Neto agradeceu aos funcionários do banco e à imprensa, aproveitando o momento para exaltar sua gestão e deixar recados. Seu trabalho tem sido alvo de duras críticas do presidente Lula desde o retorno ao Planalto.

“Desde o começo não acreditava em recondução [ao cargo]. Sempre disse que ficaria até o fim do mandato, independente de qualquer tipo de pressão. Sempre agi de forma técnica, todos no BC, principalmente na diretoria, podem atestar isso”, disse.

Campos Neto também defendeu o mercado financeiro, buscando afastar críticas sobre supostos movimentos especulatórios.

“Eu não gosto da palavra ‘especulador’. O mercado é um conjunto de preços que tenta refletir opiniões não só de investidores financeiros, mas de investidores do ‘mundo real'”, minimizou. “O mercado não é a Faria Lima. Uma empresa que faz exportação, importação; uma empresa que está comprando um terreno, comprando uma máquina, também tem preocupação com juros e câmbio.”

Campos Neto descreveu o processo de transição como “suave”, impressão corroborada pelo sucessor.
“Eu sou a testemunha da generosidade que o Roberto [Campos Neto] teve ao longo de todo esse processo de transição. A verdade é que foi uma transição entre amigos. Roberto foi muito generoso nesse processo de passagem de bastão”, disse Galípolo.

“O Roberto, em todas as reuniões, atuou com preocupação em relação ao país. Sempre. Pensando no que era melhor para economia brasileira, em fortalecer a gente. Te agradeço como futuro presidente, como brasileiro e como amigo”, completou.

Quando a coletiva foi aberta aos jornalistas, o câmbio — em um momento de dólar a valores recordes — deu o tom das perguntas. Campos Neto e Galípolo falaram sobre os leilões realizados para conter a alta da moeda americana.

“Hoje [quinta] fizemos um leilão [de dólares], a demanda foi muito maior, e decidimos fazer outro leilão. O Banco Central tem muita reserva e vai atuar se for necessário. A gente entende que este fim de ano tem havido um fluxo atípico muito grande”, disse Campos Neto. “O Banco Central deve agir no câmbio quando entende que tem alguma desfuncionalidade no fluxo”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo