Política

Futebol e neopopulismo nos palanques de BH

Ex-goleiro e ex-presidente do Atlético-MG disputam prefeitura em campanha que remete à ascensão de Macri na Argentina

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O tsunami político iniciado em junho de 2013, especialmente o grito de rejeição aos partidos, chegou a Belo Horizonte nessas eleições tendo no futebol e na denúncia dos caciques políticos profissionais os componentes que, aos poucos, se tornam decisivos na escolha do futuro prefeito da capital mineira. Uma concorrência concentrada no deputado estadual João Leite (PSDB) e no outsider (forasteiro) Alexandre Kalil (PHS), que disputa a primeira eleição. O ponto em comum entre eles está em se apresentarem como livres de ligações partidárias.

É nesse terreno pantanoso entre o apelo publicitário à despartidarização vindo das ruas e o desinteresse do eleitorado despolitizado, que a coordenadora do Grupo Opinião Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a cientista política Helcimara Telles, aponta o surgimento de um “neopopulismo conservador” na capital mineira.

“Com a ruptura do partidarismo, a gente já notava em pesquisas de 2014 o surgimento desse neopopulismo de direita”, diz. “É um populismo que vem com o discurso de que vai devolver o poder ao povo”, afirma Helcimara.

O tucano João Leite, líder nas pesquisas com 30% das intenções de voto, faz campanha escondendo o PSDB para evitar aumentar a sua rejeição – quesito também liderado por ele, segundo o Datafolha, com 21%. “O João Leite faz uma campanha em que o PSDB não aparece”, observa a cientista política da UFMG.

Já o novato Alexandre Kalil, segundo colocado com 19% nas pesquisas, adota um tom mais agressivo para agradar o eleitor que criminaliza os partidos. Em protesto contra os 20 segundos a que tem direito na propaganda de televisão, Kalil chegou a afirmar que “não lambeu saco de cacique” para ampliar a aliança formada pelo nanico PHS com Rede e PV. 

Em vídeos de campanha, usa o slogan “Chega de político, é hora de Kalil” e ataca até a linguagem dos políticos tradicionais, o que chama de “politiquês”.

“Enquanto Kalil faz o discurso contra a política, o João Leite faz uma campanha despolitizada, sem apresentar a sua sigla. Eles surfam na onda da descrença na política, nos partidos e na própria democracia, o que é grave”, diz Helcimara.

‘Macrização’

O tucano e o candidato do partido humanista têm em comum a passagem pelo Altético-MG. Leite foi goleiro do Atlético por mais de uma década antes de enveredar na política – ele é deputado estadual em Minas Gerais. Kalil foi presidente do clube durante a vitória atleticana na Taça Libertadores da América de 2013. 

O futebol imprime à disputa da capital mineira um componente de ‘Macrização’, em referência ao presidente argentino Mauricio Macri, que ganhou notoriedade como dirigente do Boca Juniors antes de entrar na política. 

“A diferença é que o Macri representa uma direita mais estruturada, que criou um partido, o Proposta Republicana”, compara Carlos Ranulfo, professor de Ciência Política UFMG. 

O fator campo, porém, parece favorecer João Leite. Goleiro nos anos 70 e início dos 80, o embate com o rival Cruzeiro ficou distante na memória do torcedor, o que é visto como positivo para atrair votos. 

Já Kalil, cuja passagem recente pelo Atlético se revestiu de embates com os cruzeirenses, é hostilizado por líderes de torcidas do time da raposa azul celeste. As organizadas do Cruzeiro se mobilizam nas redes sociais contra a candidatura do PHS.

Futebol à parte, Helcimara aponta Leite e Kalil como representantes de uma agenda “neopopulista conservadora que não nasce dentro das instituições, mas acaba capturando a agenda das instituições”.

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