Fundação Palmares é desidratada e presidente diz tirar “esquerdistas”

Comitês estratégicos e outros que gerenciam o Parque Memorial Quilombo dos Palmares foram extintos. Organização denuncia 'totalitarismo'

O presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo (Foto: Reprodução/Twitter)

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Uma portaria publicada no Diário Oficial da União da terça-feira 10 anunciou a centralização de poder da Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério do Turismo, nas mãos do presidente da instituição Sérgio Camargo, que afirmou estar tirando “esquerdistas” do governo.

A publicação extinguiu diversas comissões e comitês administrativos de diversos braços da Fundação Palmares, que tem como princípio o dever de preservar e promover as culturas negras presentes no País. A portaria acabou com comitês técnicos, como os de governança, dados abertos, gestão de logística sustentável e segurança da informação, e também alterou membros do Memorial Quilombo dos Palmares, sediado em Alagoas.

O presidente da Fundação já é conhecido por sua sequência de ataques ao movimento negro e às pautas de promoção da igualdade racial – Sérgio Camargo acredita, por exemplo, que não há racismo no Brasil.

Recentemente, o jornalista entrou em clima de ataque com a atual secretária especial de Cultura, Regina Duarte, que elencou o militante anti-movimento negro como mais um problema a ser resolvido dentro da pasta. Na segunda-feira 09, um dia antes das alterações serem publicadas, Camargo afirmou que não levava “esquerdistas” para o governo de Jair Bolsonaro em resposta às críticas tecidas por Duarte. “Muito pelo contrário, estou tirando!”, escreveu.

Entre as alterações publicadas, Sérgio Camargo também revogou planos estratégicos para a Fundação Palmares que haviam sido estabelecidos em gestões passadas – o que caracteriza a mudança de rumos do órgão orientado pelo viés ideológico radical do atual presidente.

Organizações do movimento negro se manifestaram nas redes sociais contra as decisões tomadas por Camargo, em especial ao que diz respeito ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Segundo o Coletivo AfroCaeté, o Comitê Gestor do Parque era composto por “membros de perfis diversos e por líderes alagoanos da religião de matriz africana para quem o solo, as águas, o ar de Palmares são sagrados”, escrevem.

“Consideramos essa uma atitude não somente autoritária, mas totalitária e altamente perigosa para o que ainda restou da democracia – da qual negras, negros e indígenas mal sentiram o sabor”, complementa o Coletivo.

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