Política

Funcionários do Banco Mundial acusam Weintraub de racismo e pedem suspensão de nomeação

Uma carta foi enviada ao Conselho de Ética da instituição pedindo para suspender a nomeação do ex-ministro

(Foto: Carolina Antunes/PR)
Apoie Siga-nos no

Empregados do Banco Mundial se uniram para tentar barrar a nomeação do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub para a diretoria executiva da instituição. Em carta enviada nesta quarta-feira 24 ao Comitê de Ética do banco, os integrares da associação de funcionários relembraram os polêmicos casos do brasileiro, incluindo a investigação sobre crime de racismo contra os chineses. 

“O Banco Mundial acaba de assumir uma posição moral clara para eliminar o racismo em nossa instituição. Isso significa um compromisso de todos os funcionários e membros do Conselho de expor o racismo onde quer que o vejamos. Confiamos que o Comitê de Ética compartilhe dessa visão e faremos tudo ao alcance para aplicá-lá”, afirma a associação de funcionários.

Além de enviarem ao Conselho de Ética da instituição, uma cópia da carta foi enviada a todos os funcionários. A repercussão interna da indicação é muito negativa.

“Solicitamos formalmente ao Comitê de Ética que reveja os fatos subjacentes às múltiplas alegações, com vistas a (a) suspender sua indicação até que essas alegações possam ser revisadas e (b) garantir que o Sr. Weintraub seja avisado de que o tipo de comportamento pelo qual ele é acusado é totalmente inaceitável nesta instituição”, diz.

Weintraub foi indicado pelo Ministério da Economia para assumir a diretoria executiva que representa o Brasil e mais oito países no banco. Sua confirmação depende de uma eleição interna do grupo, mas é considerada meramente protocolar, já que o País tem mais de 50% do poder de voto e por isso pode emplacar o nome que desejar para a função.

Leia a carta na íntegra:

Caros Sr. Schoenleitner e Sra. Shuaibu, A Associação dos Funcionários do Banco Mundial deseja chamar à atenção do Comitê de Ética da Diretoria o registro do Sr. Abraham Weintraub, que deve começar a trabalhar no Banco Mundial na qualidade de diretor-executivo interino da EDS15.

Muitos funcionários ficaram profundamente perturbados ao saber o seguinte:

De acordo com várias fontes, Weintraub publicou um tuíte de acusação racial que zomba do sotaque chinês, culpando a China pelo novo coronavírus e acusando-os de “dominação mundial”, levando o Supremo Tribunal Federal a abrir uma investigação sobre acusações de racismo (crime no Brasil). Weintraub sugeriu que os juízes da Suprema Corte fossem presos.

Weintraub deu declarações públicas contra a proteção dos direitos das minorias e a promoção da igualdade racial (seu último ato como ministro da Educação foi revogar diretrizes para promover cotas para afrodescendentes e povos indígenas no ensino superior). Ele já disse odiar o termo “povos indígenas”.

Embora sua indicação tenha sido condenada por vários países clientes, a Associação dos Funcionários entende que a escolha deste diretor-executivo é do Brasil e somente do Brasil. Dito isto, podemos e devemos garantir que o comportamento e as ações de nossos membros efetivos modelem o Código de Conduta para Funcionários do Conselho —exigindo os mais altos padrões de integridade e ética em sua conduta pessoal e profissional— e alinhados com nossas políticas operacionais, como nossa política de povos indígenas.

Portanto, solicitamos formalmente ao Comitê de Ética que reveja os fatos subjacentes às múltiplas alegações, com vistas a (a) suspender sua indicação até que essas alegações possam ser revisadas e (b) garantir que o Sr. Weintraub seja avisado de que o tipo de comportamento pelo qual ele é acusado é totalmente inaceitável nesta instituição.

O Grupo Banco Mundial acaba de assumir uma posição moral clara para eliminar o racismo em nossa instituição. Isso significa um compromisso de todos os funcionários e membros do Conselho de expor o racismo onde quer que o vejamos. Confiamos que o Comitê de Ética do Conselho compartilhe essa visão e faremos tudo ao seu alcance para aplicá-la.

Atenciosamente,

Assembleia Delegada da Associação de Funcionários do Banco Mundial.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo