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Frota reforça mira da CPI das Fake News em secretário de Bolsonaro

Segundo ele, empresário ligado a Wajngarten era opção do clã presidencial para pagar ações no Facebook

Frota reforça mira da CPI das Fake News em secretário de Bolsonaro
Frota reforça mira da CPI das Fake News em secretário de Bolsonaro
O deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP), durante sessão da CPMI das Fake News. (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)
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Em recente depoimento à CPI das Fake News, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) contou ter testemunhado, em 2018, o clã Bolsonaro discutir o financiamento da disseminação de conteúdo de interesse da candidatura presidencial do ex-capitão. O relato reforçou uma linha de investigação, traçada por alguns membros da CPI, que chega ao secretário de Comunicação Social do governo Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten. Este já está convocado a depor à comissão, falta marcar a data.

Frota disse ter almoçado com Bolsonaro e dois dos filhos do presidente, o deputado Eduardo e o vereador Carlos, logo após uma palestra, em uma data perto à de sua filiação ao PSL. A filiação foi em março de 2018. Frota mostrou uma foto do almoço, como prova.

Ali, disse o deputado, o clã conversou sobre como impulsionar conteúdo no Facebook. Falou-se sobre quem poderia pagar pelo serviço. Foram citados dois nomes. Um destes era “Meyer”. Para o deputado Rui Falcão (PT-SP), membro da CPI e autor do pedido de convocação de Wajngarten, trata-se de Meyer Nigri, empresário de origem judaica que é dono da empreiteira Tecnisa.

Oficialmente, Nigri deu 9 mil reais à campanha de Bolsonaro. Em fevereiro de 2018, momento próximo dos fatos narrados por Frota na CPI, o empresário dizia ao site da revista Piaui: “Apoio quem seja contra a esquerda, Bolsonaro, [o tucano Geraldo] Alckmin ou qualquer outro”. Contava que até tinha oferecido seu avião para o ex-capitão viajar e encontrar apoiadores.

Se Nigri pagou por anúncios eleitorais no Facebook, foi ilegal. Só candidatos e partidos podiam. Um outro empresário bolsonarista, Luciano Hang, das lojas Havan, foi multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a campanha por pagar anúncios.

Teriam Nigri e Hang financiado o envio maciço de mensagens de Whatsapp com fake news? Esse envio é motivo de duas ações de cassação de Bolsonaro no TSE.

Foi na casa de Nigri, em fevereiro de 2016, que Wajngarten conheceu Bolsonaro. Os dois empresários (Wajngarten é dono da Controle da Concorrência, de mapeamento e análise de mídia) atuaram juntos para aproximar o ex-capitão da comunidade judaica.

Wajngarten é judeu e participou daquela viagem a Israel em que Bolsonaro banhou-se no rio Jordão, em março de 2016. Foi colaborador da campanha do ex-capitão, e não apenas na área de mídia digital, sua especialidade. Ajudou a promover, em agosto de 2018, início da eleição, um café da manhã secreto do ex-capitão com empresários, em São Paulo. Nigri estava nesse café.

Quem estava também eram Flavio Rocha, da Riachuelo, e Sebastião Bomfim Filho, da Centauro. Hang, Rocha e Bomfim Filho estão na lista dos 200 maiores bilionários do país, elaborada em setembro pela revista Forbes. Hang era o 36o, com 8,2 bilhões de reais. Rocha, o 113o, com 2,8 bilhões. E Bomfim Filho, o 148o, com 1,9 bilhões.

Outro bolsonarista do ranking é Elie Horn, fundador da empreiteira Cyrella, na posição 73, com 4,6 bilhões. Horn, de 75 anos, é de origem judaica. Wajngarten, de 43 anos, considera-o um mentor. A CPI recebeu informações de que Horn e Wajngarten teriam idealizado e tirado do papel uma engenharia para financiar a campanha de Bolsonaro por baixo das vistas do TSE.

Visionário. Wajngarten foi um dos primeiros empresários a apoiar Bolsonaro. Foto: Marcelo Camargo/ABR

À CPI, Alexandre Frota contou ter participado da escolha, por Bolsonaro, de Wajngarten para a chefia da área de Comunicação Social da Presidência. Disse que fez o lobby durante uma reunião com Bolsonaro, Marcelo de Carvalho, dirigente da Rede TV!, e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, então secretário de Governo. O general, segundo Frota, era contra a escolha.

Wajngarten assumiu o cargo em abril. Estava, teoricamente, subordinado à Secretaria de Governo, comandada por Santos Cruz à época. O general deixou o posto dois meses depois, em junho, tendo acumulado atritos com Wajngarten.

Santos Cruz foi vítima de fake news um mês após a chegada de Wajngarten ao Palácio do Planalto e um mês antes de sair de lá. Circulou nas redes sociais bolsonaristas, e depois na mídia em geral, a foto de uma conversa que o general teria tido por WhatsApp com alguém em 6 de maio. Era uma conversa sobre uma reunião que Santos Cruz tivera na véspera, um domingo, com Bolsonaro.

A reunião com Bolsonaro de fato aconteceu, no Palácio do Alvorada. Santos Cruz havia sido alvo das milícias digitais bolsonaristas e do “guru” Olavo de Carvalho naquele fim de semana, por ter defendido regulamentar a mídia na web, e foi reclamar com o presidente.

Na falsa conversa por Whatsapp, Santos Cruz é perguntado sobre o encontro com o presidente e responde: “Mas eu disse na cara dele que isso era coisa do desequilibrado do filho dele e do frouxo do Fabio”. E o que Bolsonaro falou em seguida, quis saber o interlocutor? “Que isso não ia se repetir. Mas eu não senti firmeza, ele deve ter dado ok por trás.”

A prova de que se trata de uma conversa inventada, segundo Santos Cruz, é o horário dela, entre 8h04 e 8h25. Nesse horário e naquele dia, 6 de maio, o general viajava de avião à cidade de São Gabriel da Cachoeira, no Pará, para um compromisso de governo.

Santos Cruz pediu que a Polícia Federal abrisse um inquérito sobre a fraude. A PF abriu e cogitou chamar Wajngarten para depor. Não se sabe se de fato ele foi ouvido.

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