Política

França investiga propina na escolha do Rio para os Jogos de 2016

“Le Monde” afirma que empresário ligado a Sérgio Cabral transferiu 2 milhões de dólares para filho de integrante do COI

Arcos olímpicos no Rio: na eleição, o governador de Tóquio reclamou do processo de escolha
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O Ministério Público francês rastreou transferências bancárias suspeitas que, segundo os investigadores, teriam sido usadas para pagar propina para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. A revelação foi feita nesta sexta-feira 3 pelo jornal Le Monde.

A reportagem que revela que um empresário brasileiro transferiu em 2009 pelo menos 2 milhões de dólares para o filho de um membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) três dias antes do anúncio da cidade como sede.

A investigação francesa começou em dezembro de 2015. Os procuradores apontam que o dinheiro foi parar na conta do senegalês Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo e membro do COI, o organismo responsável pela escolha das sedes olímpicas.

Le Monde também afirma que o pagamento partiu do empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como o “Rei Arthur” no Rio de Janeiro. Soares era uma figura próxima do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e detinha centenas de contratos de prestação de serviços terceirizados com o governo do estado que envolviam quase 3 bilhões de reais. Ele também é investigado na Operação Calicute, o braço fluminense da Lava Jato.

A transferência do dinheiro teria ocorrido em duas fases. Uma primeira remessa de 1,5 milhão de dólares foi realizada em 29 de setembro de 2009 pela Matlock Capital Group, uma das empresas de Arthur Soares, diretamente para a Pamodzi Consulting, empresa que pertence a Papa Massata, filho do integrante do COI. Uma segunda transferência de 500 mil dólares foi realizada por outra empresa de Soares para uma conta de Massata na Rússia.

Os procuradores franceses também apontaram que, após receber o dinheiro, a empresa de Papa Massata transferiu 299 mil dólares para uma companhia offshore chamada Yemli Limited, que tinha como sócio Frankie Fredericks, um ex-atleta da Namíbia e membro do COI que atuou como o verificador dos votos que definiram o Rio como sede dos jogos.

A votação que definiu a sede dos jogos de 2016 envolveu Rio de Janeiro, Chicago, Madri e Tóquio. Na primeira rodada, Madri recebeu 28 votos, e o Rio, 26. Na rodada seguinte, o Rio levou a melhor sobre a cidade espanhola e venceu por 66 votos a 32. À época, o governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, reclamou do processo de escolha e disse que ele havia sido contaminado por “motivações políticas obscuras”. O cômite da Rio-2016 repudiou as declarações.

No momento, Lamine Diack cumpre prisão domiciliar na França. Ele foi denunciado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro em outro escândalo envolvendo a IAAF: o de ter recebido pagamentos para ignorar o programa de doping promovido pela federação de atletismo da Rússia. Seu filho, atualmente vive no Senegal e não deixou o país desde que passou a ser alvo de ordem de prisão emitida pela Interpol.

Procurado pelos jornalistas do Le Monde, Papa Massata Diack não quis comentar as acusações. Já Frankie Fredericks negou qualquer irregularidade. O diretor de comunicações do Comitê Rio-2016, Mario Andrada, afirmou que as eleições “foram limpas” e que o placar de 66 a 32 mostrou “uma vitória clara”. A França investiga escolha de sedes de Jogos Olímpicos de 2016 e 2020.

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