Política

Fraco desempenho leva Bolsonaro a reavaliar participação em debates

Pesquisas qualitativas captam a decepção de potenciais eleitores do presidenciável que assistiram aos dois primeiros confrontos dos candidatos na tevê

Para Bolsonaro, seria pior debater ou não debater?
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Jair Bolsonaro está propenso a não mais participar dos debates no primeiro turno. Até a véspera da votação, em 7 de outubro, estão programados sete encontros entre os presidenciáveis em canais de tevê e rádio. O candidato do PSL descartou de imediato a presença no debate da Jovem Pan na próxima segunda-feira 27. “Não está previsto, não. Devo estar viajando”, afirmou.

O anúncio da desistência foi feito por Gustavo Bebbiano, presidente em exercício do PSL, que deu como justificativa o fato de o formato “antigo” dos debates não acrescentar nada aos eleitores. “Não se trata de uma estratégia, mas de uma constatação”.

Bebbiano acrescentou em entrevistas: “Os candidatos são todos ali personagens que têm supostas soluções milagrosas para o Brasil, como se fosse tudo muito fácil. E o deputado Bolsonaro tem uma outra posição. Não é apresentar soluções fáceis”.

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A constatação do PSL, tudo indica, é outra. Bolsonaro tem acumulado fracos desempenhos em entrevistas com jornalistas e nos debates. Pesquisas qualitativas mostram uma profunda decepção de eleitores propensos a votar no deputado que assistiram ao embate entre candidatos na Band e na Rede TV. Nos grupos monitorados pelas campanhas, o presidenciável “derrete”, segundo informações obtidas por CartaCapital. Sua dificuldade em apresentar propostas de forma clara e a fuga constante das perguntas dos adversários chamaram a atenção. Emerge a imagem de despreparo.

O monitoramento nas redes sociais também é desfavorável, apesar do exército de bolsonaristas na internet ser bastante organizado. Quando o deputado foi entrevistado no Roda Viva, da TV Cultura, seus seguidores espalharam a versão de que ele se saíra muito bem e havia “engolido” os jornalistas. Uma medição de Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo, indica o contrário. De cada 10 compartilhamentos sobre a entrevista, apenas três foram favoráveis ao candidato.

“Pelo jeito, a performance do capitão não foi aquilo que se esperava”, afirmou Malini, um dos maiores especialistas do Brasil em monitoramento das redes.

No debate da Band, o primeiro do calendário eleitoral, Bolsonaro acabou ofuscado por Cabo Daciolo, do Patriotas, e sua “denúncia” de que Ciro Gomes integrava um grupo que planejava transformar a América Latina em uma república socialista, a Ursal. Sentado durante a maior parte do tempo, contido, Bolsonaro acabou em segundo plano.

 No encontro da Rede TV, seu machismo acabou exposto de forma contundente por Marina Silva na discussão sobre igualdade de salários entre homens e mulheres. Pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira 22 mostra que Bolsonaro encontra sua maior dificuldade entre o eleitorado feminino: 43% das eleitoras declararam que não votariam nele “de jeito nenhum”.

A estratégia de faltar a debates no primeiro turno não é nova. Vários candidatos bem posicionados adotaram o mesmo estratagema em eleições anteriores, caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que venceu as disputas em 1994 e 1998.

Até o momento firme nas pesquisas, em um patamar que oscila entre 17% e 22% das intenções de votos, Bolsonaro só precisa evitar muita marola e resistir à pressão para chegar ao segundo turno. Suas chances de crescimento parecem limitadas, enquanto a possibilidade de perder apoiadores não é desprezível, principalmente por causa da máquina a favor do tucano Geraldo Alckmin, que mira o mesmo eleitorado. Quanto mais quieto, melhor para os seus objetivos.

Os adversários ganham, porém, a possibilidade de reforçar a imagem de um candidato que teme a exposição pública por não ter a mínima ideia de como governar o País. Para se contrapor aos ataques nos debates e aos ínfimos oito segundos no horário eleitoral gratuito, Bolsonaro aposta em transmissões ao vivo nas redes sociais, ocasiões em poderá falar o que quiser, do jeito que quiser, sem ser questionado. Funcionará?

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