Política

Flávio Bolsonaro rebate MP, nega lavagem de dinheiro e ataca juiz

Senador disse que vazamento de informações sigilosas tem objetivo de atingir o presidente Jair Bolsonaro

O senador Flávio Bolsonaro, em vídeo na web. Foto: Reprodução/YouTube
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O senador Flávio Bolsonaro negou, nesta quinta-feira 19, que tenha cometido os crimes que estão sob investigação pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Em vídeo publicado nas redes sociais, o filho do presidente Jair Bolsonaro afirmou que acusações são “atrocidades” e questionou a atuação do juiz Flávio Itabaiana, responsável pelo caso.

O MP-RJ apura indícios de que o parlamentar e sua esposa, Fernanda, pagaram em dinheiro vivo, de forma ilegal, o montante de 638,4 mil reais na compra de dois imóveis no bairro de Copacabana, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. O imóvel seria utilizado para lavagem de dinheiro que ele conseguia com “rachadinhas” feitas em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), quando era deputado estadual.

Na quarta-feira 18, a Polícia Federal realizou busca e apreensão de documentos ligados a empresas que Flávio é sócio, como uma loja de uma franquia de chocolates. Entre os endereços, estavam 9 parentes do presidente Jair Bolsonaro, incluindo sua ex-esposa, Ana Cristina Siqueira Valle. O MP-RJ investiga os crimes de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.

Em primeiro lugar, o parlamentar criticou a veiculação de “informações sigilosas” pela imprensa. Ele sugeriu que o juiz e os promotores do caso podem ter realizado o vazamento de informações que, segundo ele, prejudicam sua defesa, desgastam sua imagem e atingem o presidente da República.

 

Flávio afirmou ainda que a filha do juiz trabalha com o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que vem sendo acusado por Bolsonaro de tentar incriminar a família do presidente no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).

“Esse juiz, no meu ponto de vista, é incompetente para analisar o meu caso”, afirmou o senador. “É importante um pequeno detalhe. Sabe onde a filha desse juiz trabalha, a Natália Nicolau? Trabalha com o governador Wilson Witzel. Tá lá até hoje. E olha, é uma boquinha que parece ser boa, Ministério Público, vocês podem investigar. Eu ouço falar que ela não aparece muito por lá não. Era bom vocês investigarem se não tem um funcionário fantasma dentro do gabinete do governador que é filha desse juiz.”

O parlamentar também criticou uma matéria publicada na quinta-feira 18, pelo jornal O Globo, que diz que o Ministério Público afirma que ex-assessores de Flávio deram 2 milhões de reais a Fabrício Queiroz. Promotores afirmam que o senador nomeava assessores que eram orientados a devolver parte de seus salários para o grupo.

“Eles não explicam que isso era um período de 12 anos e que grande parte, a maioria esmagadora desses recursos era oriundo sabe de quem? Dos próprios parentes deles, que trabalhavam lá também. Ele [Queiroz] já falou isso publicamente, que geria os recursos da família. A família depositava o dinheiro na sua conta e ele fazia o que queria com o dinheiro. Eu não tenho nada a ver com isso”, sustentou.

Outro ponto rebatido por Flávio envolve a sua loja de chocolates. Segundo o Ministério Público, ele teria lavado ate 1,6 milhão de reais no estabelecimento entre 2015 e 2018. O volume de depósitos em dinheiro vivo na conta da franquia da Kopenhagen era desproporcional em relação a negócios semelhantes, dizem os promotores.

A investigação também aponta que a entrada dos recursos em espécie coincidia com datas em que Queiroz arrecadava parte dos salários dos empregados de Flávio. Os promotores apuram se a propriedade, que ele tinha desde 2015, teria sido usada para lavagem de dinheiro em um suposto esquema de rachadinha em seu antigo gabinete.

“Agora estão atacando a minha loja de chocolates dentro de um shopping, que foi comprada obviamente com recursos meus e da minha esposa. Tudo declarado em imposto de renda. Tudo informado à junta comercial”, alegou. “Já estão me acusando de lavar dinheiro na loja. Isso é um absurdo, uma leviandade. Se eu quisesse lavar dinheiro, eu ia abrir uma franquia? Que tem o controle externo da franquiadora? Que tem auditoria?”, questionou.

Flávio também contrapôs a tese do Ministério Público em uma investigação sobre o policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio, que teria pago uma prestação no valor de 16,5 mil reais para quitar a compra de um apartamento do parlamentar. Os promotores dizem que o PM quitou um boleto emitido em nome de Fernanda Antunes Bolsonaro, esposa de Flávio.

Ambrósio era cabo da PM e tinha salário três vezes menor que o valor do boleto. A suspeita é de que o policial tenha ajudado no esquema de lavagem de dinheiro.

“Outra sacanagem que estão fazendo com o Diego, que é um policial militar, amigo meu, e que, em uma única ocasião na minha vida, se não me engano porque o banco já tinha fechado e eu não tinha aplicativo do telefone na época, pedi para ele pagar uma conta para mim, um boleto de uma parcela do apartamento que eu estava pagando. Ele pagou e depois eu reembolsei. Qual o problema nisso?”, justifica.

Ele também sustentou que o policial é um “pequeno empresário bem sucedido”.

“Aí vão cruzar as informações dos depósitos bancários. Como ele é um pequeno empresário bem sucedido, a principal renda dele não é a polícia militar, ele comprava produtos da minha loja no final do ano para dar de presente para os seus clientes. Como ele tem uma empresa de vigilância, em Copacabana, ele, no final do ano, comprava produtos da minha loja e entregava aos seus clientes que eram síndicos de prédios. O que é que tem de absurdo nisso?”, disse.

O senador aproveitou ainda para desmentir as suspeitas sobre lavagem de dinheiro com imóveis. O Ministério Público investiga a compra de dois apartamentos e uma “lucratividade excessiva” de 800 mil reais em pouco mais de um ano. Ele e a esposa teriam pago, por fora, 638 mil reais para um intermediário norte-americano na transação. Segundo o MP, o procedimento pode caracterizar lavagem de dinheiro obtido pelas rachadinhas.

Os promotores dizem que os imóveis foram vendidos pelo americano Glenn Howard Dillard, que tinha o papel de procurador dos proprietários. A venda de um dos apartamentos pelo valor de 140 mil reais, em 2012,  representou prejuízo de 30% ao verdadeiro dono, Charles Eldering. Este mesmo apartamento foi revendido por Flávio e Fernanda Bolsonaro por 550 mil reais, uma margem de lucro de 292%. O outro imóvel, comprado por 170 mil reais de outro investidor, foi revendido por 403 mil reais posteriormente.

“Virou moda. Só porque eu consegui comprar um apartamento num preço bom, eu estou lavando dinheiro com imóveis agora. São duas kitnets que eu comprei, de 29 metros quadrados, sem vaga na garagem, cacarecada, lá em Copacabana. Eu comprei de um grupo de investidores americanos que estavam saindo do Brasil. Eles me ofereceram três imóveis. Como eu não tinha dinheiro, eu comprei só dois. É óbvio que eu consegui negociar um preço melhor porque foram dois imóveis do mesmo vendedor. E aí eu sou acusado de comprar os imóveis com o valor 30% abaixo do mercado à época. Eles estavam saindo do Brasil”, justificou.

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