Política
Fim da pasta do Trabalho, armas no campo e outras ideias de Alckmin
A estratégia do tucano tem sido se descolar do governo Temer e ser uma alternativa entre o PT e Bolsonaro


Dono de cerca de 40% do tempo da propaganda eleitoral na televisão após aliança com o “Centrão”, Geraldo Alckmin tenta passar a ideia do candidato à Presidência capaz de pacificar as crises vividas pelo País. O tucano tenta transmitir uma imagem de “liberal soft”, mesclando um discurso de intervenção mínima do Estado na economia com o desenvolvimento social, embora as propostas do presidenciável estejam mais alinhadas com o “mercado”.
Na sua fala durante a convenção do PSDB, no último sábado 4, que o definiu como o candidato do partido, o tucano fez questão de criticar os governos do MDB e do PT. Não deixou para trás aquele que vem atrapalhando seu desempenho nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), porém, sem citá-lo nominalmente: “Ainda hoje, na América Latina, como bem destacou Roberto Freire, vemos em que degeneraram regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que “faz e acontece”, que pode governar sozinho ou acompanhado apenas de um grupo de fanáticos”. E completa: “gente assim quer é ditadura. Ditadura que logo degenera em anarquia”.
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A estratégia do tucano tem sido se descolar do governo Temer e ser uma alternativa entre o PT e Bolsonaro. Segundo última pesquisa Ibope/CNI, de final de junho, o tucano tem 6% das intenções de votos no cenário sem Lula e 4% caso de o petista estar no páreo.
Em 2 de agosto, o candidato ao Palácio do Planalto detalhou algumas das propostas que vem estudando para implantar em um possível governo tucano em 2019 na sabatina da Globonews. Entre elas, está o pagamentos de pós-graduação e a abertura do mercado petroleiro para empresas estrangeira. Ao longo da pré-campanha, houve muitas outras. Conheça algumas delas:
Extinção do Ministério do Trabalho
Apesar de estar aliado com o PTB, cuja cúpula é investigada por um esquema de fraudes fiscais no Ministério do Trabalho, o tucano não se fez de rogado e declarou que pretende extinguir a pasta. Ele também não pretende retornar com a discussão do imposto sindical, que acabou com a Reforma Trabalhista realizada pelo governo Temer. “O governo deve sair o máximo que ele puder [dessas questões]. Esse é um assuntos dos trabalhadores.”
Privatizar estatais
Alckmin disse em sabatina que o Estado tem mais de 140 empresas estatais e pretende privatizar boa parte delas. Segundo ele, “o governo não é para ser empresário” e não diz quais as empresas que estarão a venda uma eventual vitória. As exceções até agora seria o Banco do Brasil e Petrobras – essa última, porém, não teria o monopólio do setor.
Abrir o mercado do petróleo para empresas estrangeiras
Alckmin quer abrir o mercado do petróleo para empresas privadas e estrangeiras. Segundo ele, se entregar os poços do pós-sal a essas corporações o resultado será muito emprego para o Nordeste do país. Ele defende ainda desenvolver o refino no País e diminuir a exportação de petróleo bruto. Para isso, pretende trazer empresas estrangeiras para explorar o recurso.
“Defendo quebrar na prática o monopólio do refino, trazer investimento privado, que hoje tem muito investimento para a gente poder ampliar refinaria no Brasil.” Em seus argumentos, o país não teria que gastar com frete uma vez que “exportamos petróleo e importamos os derivados de petróleo”. Tudo deveria ser feito no Brasil. Nesse cenário, a Petrobras se restringiria a prospecção em águas profundas.
Armar o campo
O tucano discordou da proposta de seu rival, Jair Bolsonaro, que defendeu a distribuição de fuzis no campo, porém não descartou a ideia de facilitar o porte de arma para a população rural apesar de afirmar ser defensor do Estatuto do Desarmamento. “Porte de armas pode ter na área rural. Até deve ser facilitado” porque, segundo ele, os moradores do campo estão distantes e são alvo fácil.
Acabar com gratuidade na universidade
Na sabatina da GloboNews, o candidato defendeu a cobrança de cursos de pós-graduação nas universidade pública. Na ocasião, ele disse que seria o primeiro passo até que todos os cursos fossem cobrados. “O primeiro caminho é cobrar a pós-graduação, a não ser para quem precise de bolsa.”
Segundo o Estadão, um dos coordenadores da campanha de governo retificou a fala do candidato ao dizer que a proposta pretende acabar com a pós-graduação lato sensu, e não com programas de mestrado e doutorado.
Mandatos no STF
Em contraponto ao Bolsonaro, Alckmin declarou no início de julho não ser a favor de ampliar o número de cadeiras no Supremo Tribunal Federal, mas diz estudar a ideia de mandatos para os ministros da Corte. Ele citou 15 ou 20 anos para um possível mandato.
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