Política
FHC se livra do carma Serra
Serra acabou; FHC permanecerá como uma referência para o partido. Mas o PSDB vive seu pior momento


Dias antes da entrevista que concedeu ao The Economist – na qual dizia que Aécio Neves deveria ser o próximo candidato do PSDB à presidência e responsabilizava José Serra pela derrota de 2010 – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve uma conversa com diplomatas.
Segundo o Correio Braziliense, nessa conversa ele disse que sua “cota de Serra já deu”. Dias depois da entrevista, segundo Jorge Bastos Moreno, de O Globo, Serra teria dito que “Fernando Henrique está gagá”.
Chega ao fim o maior erro político de FHC.
A relação entre ambos foi alimentada por dona Ruth Cardoso que, em dezembro de 1994 convenceu o marido a nomear Serra Ministro do Planejamento. FHC já conhecia suficientemente o parceiro para identificar suas fraquezas. Mas cedeu ao apelo da esposa.
Serra sempre foi um ministro desleal. Para fora passava a ideia de que era um resistente contra os erros do câmbio, os excesso da privatização. Jamais dava uma declaração pública. Na medida em que o quadro foi se completando, com relatos de dentro do governo, emergia de Serra o perfil de um sujeito pusilânime, que se inibia intelectualmente ante o maior preparo dos economistas do Real e que estava mais empenhado em fazer acordos sigilosos com protagonistas da privatização do que em gerir a pasta.
Esse jogo de dubiedades sempre permeou a vida política e pessoal de Serra. No domingo foi colocado no Youtube um vídeo bastante significativo (http://youtu.be/BkVzB9Nbrcs). Nele, Serra diz que pode ser acusado de muitas coisas, “menos de ser desonesto e de ser privatizante”. Em seguida, uma entrevista de FHC dizendo que Serra foi o que mais lutou pela privatização dentro do seu governo, tendo papel decisivo na Vale e na Light.
O livro de Amaury Ribeiro Jr – revelando os ganhos pessoais de Serra com a privatização, fecha o ciclo.
Aliás, foi o livro o principal fator a dar a FHC energia para romper emocionalmente com Serra. O que segurava era a lembrança de dona Ruth e a impressão de que, apesar de cabeçudo, Serra tinha uma vida limpa.
Foi por isso que, depois de ter apoiado a indicação de Serra como candidato do PSDB em 2002, FHC teve paciência para suportar os ataques (por trás) que lhe foram desferidos. Serra dizia a quem quisesse ouvir que FHC o boicotara nas eleições porque sabia que ele, Serra, faria um governo melhor que o dele.
Pura jactância.
Em São Paulo, Serra provavelmente entrará para a história como o mais inoperante governo que o estado já teve. Não se envolveu com a gestão, não comandava uma reunião conjunta sequer do seu secretariado, fugiu nos momentos decisivos (greve da Policia Civil, crise de 2008, enchentes na cidade).
O coroamento de sua carreira veio com a campanha de 2010 e, agora, com as revelações de que enriqueceu usando os diversos cargos públicos.
Serra acabou; FHC permanecerá como uma referência para o partido. Mas o PSDB vive seu pior momento, sem quadros de expressão nacional, sem ideias claras sobre o que pretende ser, sem renovação.
Depois do tormento Serra, parece que nem grama nasce mais nos campos do partido.
Dias antes da entrevista que concedeu ao The Economist – na qual dizia que Aécio Neves deveria ser o próximo candidato do PSDB à presidência e responsabilizava José Serra pela derrota de 2010 – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve uma conversa com diplomatas.
Segundo o Correio Braziliense, nessa conversa ele disse que sua “cota de Serra já deu”. Dias depois da entrevista, segundo Jorge Bastos Moreno, de O Globo, Serra teria dito que “Fernando Henrique está gagá”.
Chega ao fim o maior erro político de FHC.
A relação entre ambos foi alimentada por dona Ruth Cardoso que, em dezembro de 1994 convenceu o marido a nomear Serra Ministro do Planejamento. FHC já conhecia suficientemente o parceiro para identificar suas fraquezas. Mas cedeu ao apelo da esposa.
Serra sempre foi um ministro desleal. Para fora passava a ideia de que era um resistente contra os erros do câmbio, os excesso da privatização. Jamais dava uma declaração pública. Na medida em que o quadro foi se completando, com relatos de dentro do governo, emergia de Serra o perfil de um sujeito pusilânime, que se inibia intelectualmente ante o maior preparo dos economistas do Real e que estava mais empenhado em fazer acordos sigilosos com protagonistas da privatização do que em gerir a pasta.
Esse jogo de dubiedades sempre permeou a vida política e pessoal de Serra. No domingo foi colocado no Youtube um vídeo bastante significativo (http://youtu.be/BkVzB9Nbrcs). Nele, Serra diz que pode ser acusado de muitas coisas, “menos de ser desonesto e de ser privatizante”. Em seguida, uma entrevista de FHC dizendo que Serra foi o que mais lutou pela privatização dentro do seu governo, tendo papel decisivo na Vale e na Light.
O livro de Amaury Ribeiro Jr – revelando os ganhos pessoais de Serra com a privatização, fecha o ciclo.
Aliás, foi o livro o principal fator a dar a FHC energia para romper emocionalmente com Serra. O que segurava era a lembrança de dona Ruth e a impressão de que, apesar de cabeçudo, Serra tinha uma vida limpa.
Foi por isso que, depois de ter apoiado a indicação de Serra como candidato do PSDB em 2002, FHC teve paciência para suportar os ataques (por trás) que lhe foram desferidos. Serra dizia a quem quisesse ouvir que FHC o boicotara nas eleições porque sabia que ele, Serra, faria um governo melhor que o dele.
Pura jactância.
Em São Paulo, Serra provavelmente entrará para a história como o mais inoperante governo que o estado já teve. Não se envolveu com a gestão, não comandava uma reunião conjunta sequer do seu secretariado, fugiu nos momentos decisivos (greve da Policia Civil, crise de 2008, enchentes na cidade).
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