Política

Fernando Haddad é eleito o novo prefeito de São Paulo

Com mais de 90% das urnas apuradas, o petista soma 56% dos votos contra José Serra e consolida uma das mais dolorosas derrotas do PSDB em seu reduto

O novo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Foto: Divulgação
Apoie Siga-nos no

Após 12 anos e duas derrotas seguidas, o PT voltou a vencer uma eleição na maior cidade do País. Neste domingo 28 o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, de 49 anos, foi eleito prefeito de São Paulo com 3,4 milhões de votos, 55,57% do total, contra 44,43% do tucano José Serra. O ex-governador, ex-prefeito e ex-presidenciável protagoniza assim uma das mais duras derrotas do PSDB em seu principal reduto eleitoral.

Haddad, ungido candidato pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será o terceiro petista a governar a metrópole. Repete em 2012 os feitos de Luiza Erundina, em 1988, e Marta Suplicy, em 2000. Nos três casos o partido triunfou nas urnas após o eleitor demonstrar cansaço com a força política até então vigente. Erundina foi eleita depois do insosso governo Jânio Quadros e Marta, após oito anos da dobradinha Maluf-Pitta. A vitória de Haddad acontece num momento de má avaliação do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), pupilo e sucessor de José Serra. Um dos principais nomes do PSDB, Serra chegou à segunda derrota em dois anos (em 2010, perdeu a disputa pela Presidência para Dilma Rousseff) e atingiu em 2012 um índice de rejeição superior a 50% dos eleitores, o que indica o esgotamento de sua força política em sua própria base.

Haddad liderou as pesquisas de intenção de voto durante todo o segundo turno. Ele começou a campanha com 3% das preferências e desbancou na reta final da primeira fase o então líder Celso Russomanno (PRB). Serra, que encerrou o primeiro turno à frente, teve dificuldade em convencer o eleitor de que, desta vez, cumpriria o mandato até o fim – em 2006, ele deixou o posto após dois anos para se candidatar ao governo do estado.

Em desvantagem nas pesquisas, Serra, que lançou seu programa de governo a poucos dias da votação, elevou na reta final o tom contra o adversário petista ao tentar associá-lo com o escândalo do “mensalão”, julgado hoje pelo Supremo Tribunal Federal e que funcionou em meados de 2003, quando Haddad era professor de Teoria Política da Universidade de São Paulo. A estratégia tucana soou “falsa e oportunista”, nas palavras até mesmo de Roberto Jefferson, o delator do “mensalão”.

O tucano se desgastou ainda ao se aliar ao pastor Silas Malafaia, líder religioso que ganhou notoriedade por incitar a violência contra gays. Ele levou ao centro do debate a mal sucedida tentativa do Ministério da Educação de distribuir uma cartilha anti-homofobia nas escolas, chamada preconceituosamente como “kit gay”. Para Serra, o material incentivava a prática do “bissexualismo” entre os alunos. A ideia era espalhar a ideia de que, caso eleito, o “kit” seria ressuscitado em São Paulo. A tentativa, mostraram as urnas, também não funcionou.

Haddad foi escolhido candidato pelo ex-presidente Lula após sua passagem pelo Ministério da Educação, quando ampliou o Enem, consolidou o Prouni e bancou o Plano Nacional da Educação, antiga demanda da sociedade civil que, entre outros pontos, prevê metas específicas de investimentos no setor. A exemplo do que havia feito com a então ex-ministra Dilma Rousseff dois anos atrás, Lula projetou em Haddad a “novidade” para rejuvenescer o quadro petista na maior cidade do País. Para isso, barrou os planos da então senadora Marta Suplicy, favorita durante a pré-campanha nas pesquisas eleitorais. Contrariada, a ex-prefeita, bem avaliada sobretudo na periferia paulistana, só se engajou na campanha de Haddad após ser nomeada ministra da Cultura.

Idealizador do projeto Haddad, Lula também costurou o acordo com o Partido Progressista de Paulo Maluf, que garantiu mais tempo de tevê ao seu candidato mas criou uma saia-justa que acompanharia Haddad até o fim da campanha. A imagem do abraço na casa do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, preso e investigado por evasão de divisas e símbolo de tudo o que o PT combateu em seus primórdios, até hoje não foi bem digerida por parte da militância histórica.

Azarão durante boa parte da disputa, Haddad só se tornou favorito na virada do segundo turno. Ele contou com o apoio de Gabriel Chalita (PMDB), quarto colocado na disputa, e foi beneficiado pela neutralidade anunciada por Russomanno. Herdou naturalmente os votos dos ex-rivais sem precisar posar em fotos ao lado do ex-candidato do PRB, a quem combateu durante o primeiro turno.

Desde então, não deixou mais a liderança da corrida. Com o resultado, Serra terá agora de digerir a sua maior derrota política e tende a se isolar no PSDB. Em 2014, tudo indica que o partido não dará a ele uma terceira chance na disputa pela Presidência. Como o governador Geraldo Alckmin (PSDB) é o candidato natural para a reeleição, Serra só teria chance de disputar um cargo majoritário em 2016, quando terá 74 anos.

O clamor por renovação das lideranças tucanas foi ensaiado antes mesmo da abertura das urnas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um deles. Dentro do QG da campanha tucana, no centro de São Paulo, o vice-governador paulista, Guilherme Afif Domingos (PSD), afirmou que a vitória de Haddad é um “recado” dos eleitores. “A vitória do Haddad mostra a preferência do eleitorado de SP pela renovação política. Sem dúvida o Serra era um candidato com mais experiência e mais história, mas há no Brasil uma tendência de renovação. Fica aqui o recado desse processo”.

Os rivais também não o perdoaram. Ao votar pela manhã, Marta Suplicy, derrotada por Serra em 2004, afirmou que “desta vez (José Serra) se enforcou com a própria corda”. “Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é. Foi bom ver que os paulistanos perceberam e deram o troco”.

Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, batido em 2006 para Serra na disputa pelo governo paulista, esta é a maior derrota da história do PSDB em eleições municipais.

Como previsível, no entanto, o “enterro” de Serra não foi anunciado oficialmente. Kassab, por exemplo, manifestou apoio ao padrinho político pouco após o resultado das urnas. Para ele, o tucano é “uma das pessoas mais preparadas e que mais ocupou cargos de destaque no Brasil”. “Ele vai continuar contribuindo para o País”, disse o prefeito. Se o prognóstico tem base lógica, só a história dirá.

 

*Com reportagem de Gabriel Bonis, Piero Locatelli, Marcelo Pellegrini e Matheus Pichonelli

Após 12 anos e duas derrotas seguidas, o PT voltou a vencer uma eleição na maior cidade do País. Neste domingo 28 o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, de 49 anos, foi eleito prefeito de São Paulo com 3,4 milhões de votos, 55,57% do total, contra 44,43% do tucano José Serra. O ex-governador, ex-prefeito e ex-presidenciável protagoniza assim uma das mais duras derrotas do PSDB em seu principal reduto eleitoral.

Haddad, ungido candidato pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será o terceiro petista a governar a metrópole. Repete em 2012 os feitos de Luiza Erundina, em 1988, e Marta Suplicy, em 2000. Nos três casos o partido triunfou nas urnas após o eleitor demonstrar cansaço com a força política até então vigente. Erundina foi eleita depois do insosso governo Jânio Quadros e Marta, após oito anos da dobradinha Maluf-Pitta. A vitória de Haddad acontece num momento de má avaliação do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), pupilo e sucessor de José Serra. Um dos principais nomes do PSDB, Serra chegou à segunda derrota em dois anos (em 2010, perdeu a disputa pela Presidência para Dilma Rousseff) e atingiu em 2012 um índice de rejeição superior a 50% dos eleitores, o que indica o esgotamento de sua força política em sua própria base.

Haddad liderou as pesquisas de intenção de voto durante todo o segundo turno. Ele começou a campanha com 3% das preferências e desbancou na reta final da primeira fase o então líder Celso Russomanno (PRB). Serra, que encerrou o primeiro turno à frente, teve dificuldade em convencer o eleitor de que, desta vez, cumpriria o mandato até o fim – em 2006, ele deixou o posto após dois anos para se candidatar ao governo do estado.

Em desvantagem nas pesquisas, Serra, que lançou seu programa de governo a poucos dias da votação, elevou na reta final o tom contra o adversário petista ao tentar associá-lo com o escândalo do “mensalão”, julgado hoje pelo Supremo Tribunal Federal e que funcionou em meados de 2003, quando Haddad era professor de Teoria Política da Universidade de São Paulo. A estratégia tucana soou “falsa e oportunista”, nas palavras até mesmo de Roberto Jefferson, o delator do “mensalão”.

O tucano se desgastou ainda ao se aliar ao pastor Silas Malafaia, líder religioso que ganhou notoriedade por incitar a violência contra gays. Ele levou ao centro do debate a mal sucedida tentativa do Ministério da Educação de distribuir uma cartilha anti-homofobia nas escolas, chamada preconceituosamente como “kit gay”. Para Serra, o material incentivava a prática do “bissexualismo” entre os alunos. A ideia era espalhar a ideia de que, caso eleito, o “kit” seria ressuscitado em São Paulo. A tentativa, mostraram as urnas, também não funcionou.

Haddad foi escolhido candidato pelo ex-presidente Lula após sua passagem pelo Ministério da Educação, quando ampliou o Enem, consolidou o Prouni e bancou o Plano Nacional da Educação, antiga demanda da sociedade civil que, entre outros pontos, prevê metas específicas de investimentos no setor. A exemplo do que havia feito com a então ex-ministra Dilma Rousseff dois anos atrás, Lula projetou em Haddad a “novidade” para rejuvenescer o quadro petista na maior cidade do País. Para isso, barrou os planos da então senadora Marta Suplicy, favorita durante a pré-campanha nas pesquisas eleitorais. Contrariada, a ex-prefeita, bem avaliada sobretudo na periferia paulistana, só se engajou na campanha de Haddad após ser nomeada ministra da Cultura.

Idealizador do projeto Haddad, Lula também costurou o acordo com o Partido Progressista de Paulo Maluf, que garantiu mais tempo de tevê ao seu candidato mas criou uma saia-justa que acompanharia Haddad até o fim da campanha. A imagem do abraço na casa do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, preso e investigado por evasão de divisas e símbolo de tudo o que o PT combateu em seus primórdios, até hoje não foi bem digerida por parte da militância histórica.

Azarão durante boa parte da disputa, Haddad só se tornou favorito na virada do segundo turno. Ele contou com o apoio de Gabriel Chalita (PMDB), quarto colocado na disputa, e foi beneficiado pela neutralidade anunciada por Russomanno. Herdou naturalmente os votos dos ex-rivais sem precisar posar em fotos ao lado do ex-candidato do PRB, a quem combateu durante o primeiro turno.

Desde então, não deixou mais a liderança da corrida. Com o resultado, Serra terá agora de digerir a sua maior derrota política e tende a se isolar no PSDB. Em 2014, tudo indica que o partido não dará a ele uma terceira chance na disputa pela Presidência. Como o governador Geraldo Alckmin (PSDB) é o candidato natural para a reeleição, Serra só teria chance de disputar um cargo majoritário em 2016, quando terá 74 anos.

O clamor por renovação das lideranças tucanas foi ensaiado antes mesmo da abertura das urnas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um deles. Dentro do QG da campanha tucana, no centro de São Paulo, o vice-governador paulista, Guilherme Afif Domingos (PSD), afirmou que a vitória de Haddad é um “recado” dos eleitores. “A vitória do Haddad mostra a preferência do eleitorado de SP pela renovação política. Sem dúvida o Serra era um candidato com mais experiência e mais história, mas há no Brasil uma tendência de renovação. Fica aqui o recado desse processo”.

Os rivais também não o perdoaram. Ao votar pela manhã, Marta Suplicy, derrotada por Serra em 2004, afirmou que “desta vez (José Serra) se enforcou com a própria corda”. “Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é. Foi bom ver que os paulistanos perceberam e deram o troco”.

Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, batido em 2006 para Serra na disputa pelo governo paulista, esta é a maior derrota da história do PSDB em eleições municipais.

Como previsível, no entanto, o “enterro” de Serra não foi anunciado oficialmente. Kassab, por exemplo, manifestou apoio ao padrinho político pouco após o resultado das urnas. Para ele, o tucano é “uma das pessoas mais preparadas e que mais ocupou cargos de destaque no Brasil”. “Ele vai continuar contribuindo para o País”, disse o prefeito. Se o prognóstico tem base lógica, só a história dirá.

 

*Com reportagem de Gabriel Bonis, Piero Locatelli, Marcelo Pellegrini e Matheus Pichonelli

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.