Política

‘Faz tempo que não tenho vergonha na cara’: em diálogos, Dallagnol minimiza ‘cooperação informal’ com outros países

‘No problems hermanito’, disse o chefe da Lava Jato a procurador que demonstrou preocupação; as mensagens chegaram ao STF nesta segunda

O ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
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A defesa do ex-presidente Lula enviou ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira 22 uma nova leva de mensagens trocadas entre procuradores da Lava Jato. Os diálogos foram obtidos pela Operação Spoofing e compartilhados com o petista por ordem do STF. O material traz mais indícios sobre a cooperação fora dos autos entre membros do Ministério Público Federal e autoridades estrangeiras.

 

Em 6 de julho de 2015, uma conversa entre o chefe da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e o procurador Orlando Martello Júnior trata de uma cooperação internacional, fora dos canais oficiais, com o principado de Mônaco.

Escreveu Dallagnol: “Orlando, amanhã cedo encaminho as coisas da Suíça… vou fazendo a lista aqui… ligar pra antígua, suíça, DEA etc… se chegar na Noruega e Vc não tiver feito, aviso Vc e faço… se fizer antes, manda ver… mas se estiver preocupado com minha ausência de cara de pau pra falar pra eles, pode deixar que tenho de sobra kkkk… de qq modo, li o email de Mônaco, ainda, e é bem melhor do que havia achado… dá a entender que é possível regularizar a posteriori… enfim, vamos nos falando e fique à vontade pra fazer.”

CartaCapital manteve eventuais erros gramaticais e abreviações presentes nas mensagens originais.

Martello Júnior, então, respondeu: “Minha preocupação com Noruega é só para tirar p seu encargo. Nada mais. Se quiser fazer, melhor …rs.”

Dallagnol emendou: “Imaginei. No problems hermanito. Faz Tpo que não tenho vergonha na cara kkkkk.”

No mesmo diálogo, o chefe da Lava Jato ainda pediu a Martello Júnior: “Não comenta com ninguém do e-mail do Stefan. Se vazar algo não manda…”

Segundo a defesa de Lula, trata-se de “uma clara referência ao procurador suíço STEPHAN LENZ, que
trocou documentos e informações com o chefe da ‘força tarefa’ pelo Telegram e, portanto, fora dos canais oficiais.”

No final de janeiro, mensagens obtidas pela Operação Spoofing e enviadas ao STF pela defesa do petista indicavam que Lenz, responsável por liderar as investigações na Suíça contra a Petrobras e a Odebrecht, sugeriu ao procurador Orlando Martello Júnior que a estatal o contratasse a fim de ampliar suas chances de recuperar dinheiro desviado.

Segundo o material, Lenz ainda ocupava o cargo no Ministério Público da Suíça quando fez a proposta. Ele também indicou que existiam investigações desconhecidas dos brasileiros que poderiam ser úteis.

A defesa de Lula sustenta que o material também “indica que após ter deixado o cargo promotor na Suíça o promotor STEPHAN LENZ esteve em reuniões na Petrobras com a ciência da ‘lava jato’. Para além disso, os membros da ‘força tarefa’ também discutiram a contratação de LENZ para atuar no caso Odebrecht como forma de, ‘no mínimo’, poderem ‘obter todos os docs da investigação la’ como forma de ‘upgrade na investigação’.  Esse diálogo entre procuradores foi mantido em 24 de janeiro de 2017.

A nova leva de mensagens que chegou ao STF oferece ainda outras pistas sobre as relações entre a Lava Jato e autoridades suíças, como aponta outro diálogo entre Dallagnol e Martello Júnior, em 30 de novembro de 2015. Nele, é mencionada uma pasta de computador nomeada como “procuradores-suíça”.

Conforme as novas mensagens, o então juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em primeira instância, estava ciente da cooperação fora dos autos entre a força-tarefa e autoridades suíças. Os procuradores se referem a Moro como “Russo”.

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