“Se soubessem que estavam sendo filmados, tenho certeza que eles jamais teriam atirado contra meu filho”, diz Roseane da Silva Ribeiro, mãe de Rogério Ferreira da Silva Júnior, assassinado pela Polícia Militar de São Paulo em 9 de agosto de 2020, no dia em que celebrava o seu aniversário de 19 anos. Empregado registrado de uma empresa de logística, o jovem pegou emprestada a moto de um amigo para um rápido passeio nas ruas do Parque Bristol, na Zona Sul da capital paulista, naquela ensolarada tarde de domingo. Abordado por dois agentes da Rocam, divisão da PM que faz patrulhamento com motocicletas, foi baleado na região dorsal e agonizou na rua à espera de socorro. Imagens de câmeras de segurança não deixam margem a dúvidas. O rapaz aparece nas imagens sem capacete, trafegando pela Avenida dos Pedrosos. Em seguida, dois policiais cercam o jovem, que reduz a velocidade até parar perto da calçada. Na sequência, ele tomba com a moto, atingido pelo disparo fatal. Estava desarmado.
Mesmo com o crime filmado a partir de vários ângulos, os policiais envolvidos na ocorrência aguardam em liberdade pelo julgamento – alegam que a vítima “fez menção de colocar a mão na cintura como se tivesse uma arma de fogo”. São Paulo havia acabado de bater o recorde de homicídios decorrentes de intervenção policial no semestre anterior. Um ano após a bárbara execução, o governador João Doria, do PSDB, implantou no estado o Programa Olho Vivo, com a instalação de câmeras nos uniformes dos PMs que gravam tudo que acontece, em tempo real.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login