Política

Exército tem mais de 317 mil comprimidos de cloroquina encalhados; produção em 2020 teve custo milionário

Os militares produziram, no ano passado, 3,2 milhões de comprimidos do medicamento ineficaz contra a Covid, 25 vezes mais que o habitual

Foto: EVARISTO SÁ/AFP
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O Exército tem estocados 317,6 mil comprimidos de cloroquina, medicamento ineficaz contra a Covid-19 mas propagado pelo presidente Jair Bolsonaro. O remédio está encalhado em meio à diminuição da procura pelos estados.

A informação sobre os estoques de cloroquina sob responsabilidade do Exército foi obtida pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que cobrou o Laboratório Químico e Farmacêutico da força. As contas foram prestadas via Lei de Acesso à Informação.

Em 2020, esse laboratório e o Laboratório Farmacêutico da Marinha produziram, no total, 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina, 25 vezes mais que a produção habitual. Antes da pandemia, o laboratório do Exército produzia cerca de 250 mil comprimidos a cada dois anos para sustentar o programa de combate à malária, doença contra a qual a cloroquina é utilizada.

“O estoque atual de Cloroquina 150 mg é de 317.590 (trezentos e dezessete mil quinhentos e
noventa) comprimidos”, informou o Exército no último dia 22. Os medicamentos vencem entre abril e julho do ano que vem.

2.496.010 comprimidos foram distribuídos aos estados. 413.310 foram destinados às Organizações Militares de Saúde das Forças Armadas, ao longo de 2020.

Ainda segundo a força, o valor total empregado para aquisição do Insumo Farmacêutico Ativo, dos excipientes e do material de origem para a produção de cloroquina foi de 1.165.378,81 reais.

Segundo Ivan Valente, “é nisto que dá o ‘um manda e o outro obedece'”.

“Política insana que conjuga atentado à vida com políticas ineficazes e mentirosas, gerando gastos públicos inúteis e corrupção, enquanto a população e os profissionais de saúde sofrem nos hospitais, sem estrutura, medicamento e até oxigênio. O perverso não se sensibiliza nem com morte por asfixia”, disse o parlamentar em contato com CartaCapital.

No último dia 23, a Associação Médica Brasileira recuou sobre o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, entre eles a cloroquina.

Em boletim, a AMB reconheceu que “infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”.

A manifestação vai na contramão do que foi divulgado em julho do ano passado, quando a associação defendeu a “autonomia dos médicos” para receitar os medicamentos.

Ainda assim, Bolsonaro insiste na defesa da droga ineficaz. Em transmissão ao vivo nas redes sociais na última quinta-feira 26, o presidente indicou que, se for infectado mais uma vez pelo novo coronavírus, utilizará a cloroquina.

“Não tem um medicamento certo para isso ainda de forma clara, não existe medicamento para isso, mas o médico tem alternativas e pode salvar a sua vida com essa alternativa”, disse.

“Se eu, por ventura, for reinfectado, eu já tenho meu médico e já sei o que ele vai receitar para mim, o que me salvou lá atrás”, acrescentou Bolsonaro, que não hesitou em defender o medicamento publicamente desde o início da pandemia.

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