Política
Exército impediu planos e tentativas de desmontar acampamento, acusa coronel da PM do DF
Jorge Eduardo Naime foi preso na terça-feira por suspeita de omissão diante dos golpistas que causaram destruição em Brasília em 8 de janeiro


O coronel Jorge Eduardo Naime afirmou nesta quinta-feira 10 que o Exército Brasileiro impediu que a Polícia Militar do Distrito Federal desmontasse o acampamento bolsonarista instalado em frente ao quartel. A informação é do site G1, que teve acesso ao depoimento do policial. Naime está preso desde terça-feira 7 por suspeita de omissão. Ele chefiava o departamento de operações da PM.
Segundo Eduardo Naime, o Exército ‘frustrou todos os planejamentos e tentativas’ da PM para desmobilizar a aglomeração de onde partiram os golpistas. Ele alega que, em dezembro do ano passado, ainda sob a gestão de Jair Bolsonaro, esteve no Palácio do Planalto e apresentou aos militares um plano de desmobilização do acampamento.
A intenção, diz Naime, era que o plano apresentado por ele fosse executado antes da virada do ano, para que a posse de Lula (PT) ocorresse já sem a presença dos bolsonaristas em Brasília. De acordo com o coronel, toda a corporação havia sido mobilizada para a operação.
“A PMDF colocou todos os meios necessários à disposição do Exército Brasileiro (mais de 500 policiais, tropa de choque, aeronave, etc.); que ficaram em condições para efetuar a operação de retirada do acampamento”, registrou Naime em depoimento.
Dias depois, porém, o Exército informou ao policial que a operação estaria suspensa. Ele aponta a figura do general Gustavo Henrique Menezes Dutra, chefe do Comando Militar do Planalto naquela ocasião, como um dos responsáveis por barrar a tentativa de retirada dos golpistas. A ordem para que a operação não fosse executada foi dada em 29 de dezembro sob alegação de ‘preservar a segurança dos envolvidos’.
“Posteriormente chegou a informação que o general Dutra, por ordem do comandante do Exército, havia suspendido a operação”, anota um trecho do depoimento de Naime à Polícia Federal.
Ainda na oitiva, Naime diz que essa teria sido apenas uma das reuniões em que o tema foi tratado. Em todas as ocasiões, alega, o plano não saiu do papel por ordem do Exército.
“Exército frustrou todos os planejamentos e tentativas”, enfatiza Naime no depoimento.
A Força foi procurada pelo site para comentar as acusações de Naime, mas não respondeu. O policial segue preso por suspeita de omissão. Era ele quem coordenava o setor operacional da tropa da polícia na ocasião. Pesa ainda contra o agente o fato de ter pedido folga dias antes dos atos golpistas, mesmo com os alertas de ameaças de um episódio terrorista no DF. Ele é alvo da Operação Lesa Pátria.
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