Política

Exército diz que treinamento contra grupos de esquerda não tem conotação ideológica

A corporação reagiu a um questionamento do deputado Ivan Valente sobre simulação realizada em 2020 que encenava combate a organizações associada ao PT e ao MST

Militares do Exército em fila. Foto: Acervo 13BIB - Curitiba /PR
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O Exército afirmou que não há conotação ideológica em um treinamento realizado em 2020 que simulava o combate a um grupo político associado à esquerda. A declaração ocorreu por meio de um texto da corporação publicado 7 de janeiro deste ano, como resposta a um questionamento do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) via Lei de Acesso à Informação.

O requerimento de Valente surgiu após a divulgação de uma reportagem no site The Intercept Brasil em 7 de dezembro do ano passado. Segundo a matéria jornalística, o texto do Exército que apresentava o treinamento a candidatos a integrar a sua tropa de elite simulava o combate a uma “organização armada clandestina”, surgida “de uma dissidência do Partido dos Operários”, o “PO”, que “recruta e treina militantes do MLT”, o “Movimento de Luta pela Terra”.

O inimigo fictício era chamado de “Exército de Libertação do Povo Brasaniano”, em um país chamado Brasânia, “criado a partir de um projeto de partido político de caráter marxista”. Conforme indica a reportagem, os trechos fariam referência ao Exército de Libertação Nacional da Colômbia, ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A atividade tinha o nome de Operação Mantiqueira e havia sido realizado na cidade de Piquete, uma cidade com 15 mil habitantes no estado de São Paulo, próxima ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais. Entre os participantes, estavam sargentos de carreira e oficiais do Exército que eram alunos do Centro de Instrução de Operações Especiais, o CIOpEsp, instituição que fica em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

O exercício era o último do curso que serve como vestibular para a entrada nas Forças Especiais. Dezessete candidatos teriam sido aprovados de uma turma de 40 alunos. Eles ingressaram, portanto, no Batalhão de Forças Especiais, em Goiânia.

O Exército alegou que as informações “são meramente fictícias e serviram somente para contextualizar o Exercício de Operações Contra Forças Irregulares do Curso de Forças Especiais, no ano de 2020, sem nenhuma conotação político-ideológica nem de nacionalidade”.

Declarou ainda que “o exercício visa tão somente aos militares desenvolverem a capacidade em combater Forças Irregulares, de Insurgência, de Guerrilha e/ou grupos armados contra o Estado de Direito”.

Nas redes sociais, Ivan Valente criticou o posicionamento da corporação.

“O Exército respondeu a nosso requerimento de informação sobre Operação Mantiqueira, que simulava combates contra grupos de esquerda. Minimizaram, responderam estar em consonância com Estado Democrático de Direito. Absurdo! Por que não treinam com uma operação antifascista?”, protestou o deputado.

Veja resposta do Exército na íntegra

Prezado Senhor,

Ao cumprimentá-lo, cordialmente, o Serviço de Informações ao Cidadão do Exército Brasileiro (SIC-EB) acusa o recebimento do pedido formulado por V Sa, registrado com o protocolo nº 60143006754202111.

A respeito do assunto, o SIC-EB informa que:

O Curso de Forças Especiais destina-se a especializar militares para o planejamento e a condução, entre outras missões, de Operações Contra Forças Irregulares, conforme previsto na Diretriz Reguladora aprovada pela Portaria nº 482-EME, de 23 NOV 16, e em plena consonância legal com a Doutrina de Emprego das Forças Especiais, mundialmente consagrada, e com a previsão constitucional de emprego das Forças Armadas, conforme Art 142 da Constituição Federal, de Defesa da Pátria, da Garantia dos Poderes Constitucionais e da Lei e da Ordem, ou seja, na defesa do Estado Democrático de Direito.

Quanto ao exercício em pauta (Operação Mantiqueira), informo que se constituiu em um exercício conduzido pelo Centro de Instrução de Operações Especiais (CI Op Esp), Unidade de Formação/Especialização de Forças de Operações Especiais do Exército, responsável em conduzir o Curso de Forças Especiais, entre outros, baseado na Doutrina Militar Terrestre e constante do Plano de Disciplinas e do Quadro Geral de Atividades Escolares previstos para o referido Curso.

As informações constantes na documentação do exercício (ANEXO ‘A” – INTELIGÊNCIA O Op 1º BFEsp – FT Op Esp CAVEIRA) são meramente fictícias e serviram somente para contextualizar o Exercício de Operações Contra Forças Irregulares do Curso de Forças Especiais, no ano de 2020, sem nenhuma conotação político-ideológica nem de nacionalidade.

Desse modo, o exercício visa tão somente aos militares desenvolverem a capacidade em combater Forças Irregulares, de Insurgência, de Guerrilha e/ou grupos armados contra o Estado de Direito. Por fim, eventual recurso deve ser dirigido ao Chefe do Estado-Maior do Exército, no prazo de 10 (dez) dias, conforme previsto na Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. 

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