Política

Ex-ministras e 2.000 lideranças femininas rebatem Temer e reforçam que houve golpe contra Dilma

‘Voltamos e voltamos para afirmar às gerações futuras que nada nos fará recuar’, diz o manifesto

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Mais de 2.000 mulheres assinaram um manifesto para reforçar que houve golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. 

A informação foi divulgada nesta quinta-feira 9 pela colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo

O endosso aconteceu após o ex-presidente Michel Temer (MDB) declarar em suas redes sociais que “o país não foi vítima de golpe algum”.

Segundo ele, “foi na verdade aplicada a pena prevista para quem infringe a Constituição”. A declaração de Temer foi uma reação à crítica do presidente Lula (PT) no Uruguai sobre a destituição de Dilma. 

O documento idealizado pela socióloga Eleonora Menicucci, pela pesquisadora Celia Watanabe e pela desembargadora aposentada Magda Biavaschi veem ele como responsável pela queda da ex-presidenta.

No texto, Temer é descrito como um “grandes artífices do golpe” seguido por “vozes ressentidas, equivocadas ou, ao menos, golpistas”. Também são elencadas ações do governo para implementar um projeto liberal no País, como a reforma da Previdência e o Teto de Gastos. 

“Diante disso, nós mulheres, que constituímos a maioria da população do país, destacando estarem vivas nesse golpe nossas heranças patriarcais e a misoginia, cá estamos para, em uníssono, bradar: foi golpe, um golpe institucional/parlamentar, misógino, de graves proporções e que se expressou nas reformas que se seguiram”, diz o manifesto.

Entre os signatários estão lideranças políticas, intelectuais e artistas, como a ministra Anielle Franco, a ex-ministra Izabella Teixeira, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), a jurista Carol Proner, a professora e filósofa Marilena Chauí e a cineasta Tata Amaral.

“Reproduzindo o discurso da presidente Dilma, reafirmamos: Voltamos e voltamos para afirmar às gerações futuras que nada nos fará recuar”, concluem.

Leia o manifesto na íntegra:

MULHERES REAFIRMAM: HOUVE GOLPE CONTRA A PRESIDENTA DILMA

Há seis anos, um golpe urdido por forças externas e internas a este Brasil de resilientes heranças patriarcais e escravocratas, sem qualquer crime cometido e, muito menos, comprovado, o Senado Federal aprovou o chamado “impeachment” da primeira mulher eleita e reeleita presidenta do país, Dilma Rousseff. Golpe institucional que, apoiado por forças econômicas e políticas, pela mídia oficial e por certas elites “semi-ilustradas” que difundem a ideia de que o processo de globalização e suas consequências são inexoráveis, envolveu o Parlamento e o próprio Sistema de Justiça, sendo marco fundamental para a retomada do processo liberalizante que vinha sendo resistido, propiciando que interesses privados passassem a subjugar o sentido do público. Esse golpe fundamentou-se em ideário expresso nas reformas liberalizantes que se seguiram as quais, sem entregar o prometido, impactaram negativamente as instituições públicas, os direitos sociais arduamente conquistados, o mundo do trabalho, a classe trabalhadora, a vida das mulheres, sobretudo das negras, a sociedade brasileira, aprofundando as históricas desigualdades sociais que vinham sendo superadas por medidas e políticas públicas adequadas que os governos do PT buscavam constituir.

Naquele mesmo dia, em pronunciamento histórico, a Presidenta Dilma denunciou essa trama urdida contra a soberania popular, contra o país, a população brasileira, a democracia. Seu discurso hoje soa como uma profecia. “Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment. Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática.” E finalizou com ênfase: Voltaremos.

Os dados econômicos e do mundo do trabalho evidenciam a correção de sua profecia. O ataque aos movimentos sociais e sindicais, aos direitos constitucionais e trabalhistas, à vida digna, à aposentadoria, à saúde, à educação, à moradia, à cultura, ao desenvolvimento sustentável, ao meio ambiente, às liberdades de credo, às relações sociais em suas múltiplas expressões, às subjetividades, às mulheres, aos negros e negras, aos povos originários, à comunidade LGBT Qi+, foi de tal ordem que a população reagiu e a profecia se concretizou: Voltamos.

E justo quando, pela via do processo eleitoral democrático, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva foi consagrada, possibilitando que se retome a caminhada interrompida rumo a uma sociedade justa e igualitária, com direitos e garantias amplamente assegurados, com um Estado que recupere seu papel de coordenador e construtor de políticas públicas integradoras, é que, pasmem, um dos grandes artífices do golpe, o então Vice Presidente Michel Temer, acompanhado por vozes ressentidas, equivocadas ou, mesmo, golpistas, vem a público dizer: não foi golpe .

Diante disso, nós mulheres, que constituímos a maioria da população do país, destacando estarem vivas nesse golpe nossas heranças patriarcais e a misoginia , cá estamos para, em uníssono, bradar: foi golpe , um golpe institucional/ parlamentar, misógino, de graves proporções e que se expressou nas reformas que se seguiram, entre elas; a Emenda 95 que congelou o teto do gasto público por vinte anos; a reforma trabalhista de 2017 que, contrariamente ao prometido, aprofundou as históricas assimetrias de um mercado de trabalho constituído sob o signo da exclusão; a da Previdência, restringindo o acesso à aposentadoria; a destruição dos programas de moradia e dos programas para as mulheres; o corte das políticas à saúde e a redução de recursos ao SUS, entre outras atrocidades. E, reproduzindo o discurso da Presidenta Dilma, reafirmamos: Voltamos e voltamos para afirmar às gerações futuras que “Nada nos fará recuar.”

São Paulo, 29 de janeiro de 2023

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