Política

Ex-candidato, doadores de Bolsonaro e cabos eleitorais: a lista dos presos após os atos terroristas

Ao todo, foram presos 157 homens e 119 mulheres

Michela Lacerda foi candidata em 2018 com direito a pedido de votos de Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução
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Entre os 276 presos pelos atos golpistas do último domingo e que tiveram os nomes divulgados pelo governo do Distrito Federal, estão doadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), candidatos a cargos eletivos não eleitos e cabos eleitorais de campanhas do último pleito. O GLOBO mapeou também diversas pessoas que aparecem como beneficiárias de programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial. A lista completa de nomes tem 157 homens, levados para o Centro de Detenção Provisória II (CPD II), e 119 mulheres levadas para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF).

Entre os radicais presos pela polícia está Michela Lacerda, ex-candidata a deputada federal em 2018 no Acre pelo PSL, partido de Bolsonaro naquela eleição. Em um vídeo postado em suas redes sociais nas vésperas do pleito naquele ano, Bolsonaro pediu votos à Michela: “Uma das suas grandes marcas no estado é seu forte trabalho social. Então, com esta base e com outros interesses que o Acre também precisa é que eu apelo, peço o seu voto”, disse o então candidato à Presidência.

A suplente da Câmara Municipal de Ipatinga, no interior de Minas Gerais, Ana Paula Neubaner Rodrigues, também integra a lista de presos. Ao longo das eleições do ano passado, ela fez inúmeras postagens nas redes sociais de endosso à candidatura do deputado mais votado do país, Nikolas Ferreira. Ana Paula se descreve como influenciadora bolsonarista e é filiada ao Patriota. Desde a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, ela compareceu a uma série de bloqueios e atos antidemocráticos que ocorreram ao redor do país.

Já Rosana Maciel Gomes, de forma mais direta, foi cabo eleitoral de Gabriel Picanço (Republicanos), deputado estadual eleito em Roraima. Ela recebeu R$ 500 para participar de campanhas de rua, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Entre os apoiadores diretos do ex-presidente ainda há duas pessoas que doaram para a campanha de Bolsonaro à reeleição no ano passado. Marisa de Fátima Renner, que doou R$ 20, e Marileide Marcelino da Silva, que contribuiu com R$ 10, foram presas em flagrante pelas forças de segurança no último domingo. Já a diretora escolar Iraci Meugmi Nagoshi, de São Caetano do Sul (SP), doou a quantia de R$ 2 para o ex-presidente, durante o período de campanha nas eleições do ano passado — a doação de pequenas quantias foi frequente entre bolsonaristas, como forma de apoio ao então candidato.

Simone Aparecida Tosato Dias, por sua vez, doou R$ 20 em um financiamento coletivo para a campanha de José Eduardo Botelho, candidato a deputado estadual de Mato Grosso (MT) pelo União Brasil. Ele foi eleito com 52 mil votos e, em suas redes sociais, condenou os ataques em Brasília.

Na teia política de presos por terrorismo aparecem também cabos eleitorais de outros candidatos nas últimas eleições.

Sirlene de Souza Zanotti foi contratada por R$1,2 mil na campanha do candidato a deputado federal de São Paulo Guilherme Piai Silva Filizola (Republicanos). Ele foi eleito suplente ao cargo com 63 mil votos. Outra pessoa que prestou serviços a um candidato foi Rosaneide Rodrigues Souza. Para trabalhar com serviços de militância na campanha de Wesley Vieira Sathler (União Brasil), que tentava uma vaga na Câmara, ela recebeu R$ 3 mil. O candidato, no entanto, não foi eleito.

Elisangela Cristina Alves de Oliveira, também presa pelos atos golpistas, recebeu R$ 1 mil para atividades de militância e mobilização de rua, na campanha da candidata a deputada federal Josielle Vicuna da Silva Sampaio, a Josi Sampaio, do PSD de Mato Grosso. A candidata também não se elegeu.

Campanha para filho de Sérgio Cabral

Dentre os homens na lista de presos, está Ueliton Guimarães de Macedo. Antes de ir a Brasília, ele esteve no acampamento bolsonarista em frente ao Comando Militar do Leste (CML), no Centro da capital carioca.

Antes, ainda durante as eleições do ano passado, chegou a pedir votos nas redes sociais para o candidato a deputado federal Marco Antônio Cabral (MDB), que ficou com vaga de suplente de seu partido na Câmara e é filho do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral.

Outro dos presos, Edvagner Bega, chegou a compartilhar publicações favoráveis ao presidente Lula no passado. Em 2014, por exemplo, ele divulgou uma foto com frase creditada ao petista sobre vencer “aquela elite brasileira que sempre considerou o exterior melhor que o próprio país”.

Perfis nas redes

A estudante de medicina na Universidade de São Paulo (USP) Roberta Jersyka Brasil também está na relação de presos por atos golpistas. Em suas redes sociais ela usa a hashtag “#resistenciaCivil” em postagens e gravou diversos vídeos do acampamento golpista instalado no Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. Em uma de suas últimas postagens, convocou manifestantes para o encontro na Esplanada em Brasília, no último sábado.

Dona Fátima, a bolsonarista idosa que disse ter evacuado no Supremo Tribunal Federal, além de proferir um discurso de ódio contra o ministro Alexandre de Moraes, é mais uma que consta na primeira lista de presos. Fátima Aparecida Pleti é natural de Bauru (SP), onde trabalha em uma lavanderia e tinturaria. No ano passado, por R$ 2 mil, trabalhou na campanha de Luiz Carlos Valle (PL), que obteve pouco mais de 14,3 mil votos e é suplente de seu partido na Alesp.

Além dela, outros personagens viralizaram nos últimos dias por protagonizarem registros polêmicos. Moradora de Tubarão, em Santa Catarina, a empresária Camila Marques gravou vídeos no Congresso Nacional. Em uma sequência de stories, ela dizia que os golpistas só iriam deixar a Praça dos Três Poderes quando o Exército chegasse ao local. Em seguida, a catarinense criticou a ação das forças, o que virou motivo de piada entre os internautas.

A manicure paulista Crisleide Gregório Ramos é outra presa que compartilhou imagens nas dependências dos Três Poderes. Em um vídeo, a bolsonarista mostra outros três apoiadores comendo na cozinha do Palácio do Planalto.

Parte das detentas também são funcionárias públicas. É o caso de Jucilene Costa do Nascimento e Isolve Zamboni. Nascimento é servidora do Instituto de Metrologia do Pará, enquanto Zamboni é viúva de um auditor fiscal da receita federal e, até maio de 2018, atuava como agente de um posto de saúde municipal em Guairá, no Paraná.

Entre as 118 mulheres presas em Brasília neste domingo, ao menos 20 receberam Auxílio Emergencial e Auxílio Brasil ao longo do governo de Jair Bolsonaro. Quatro delas também eram beneficiárias do Bolsa Família, advindo das gestões do PT. O dado reforça a articulação de empresários acusados de financiar o transporte de apoiadores até a capital.

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