Política
Ex-assessor acusa Moraes de irregularidades em investigação do 8 de Janeiro
Eduardo Tagliaferro foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito


Ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral, o perito e ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE Eduardo Tagliaferro afirmou em depoimento no Senado nesta terça-feira 2 que seu então chefe determinava a produção de relatórios de monitoramento após supostos pedidos informais de “parceiros”.
Ele ainda acusou o ex-presidente do TSE de utilizar a assessoria para ajudar na investigação contra os golpistas presos em flagrante nos atos de 8 de Janeiro de 2023 e de “fazer uma maracutaia judicial” ao “direcionar investigações” – segundo o perito, Moraes e assessores enviavam vídeos para o órgão com objetivo de checar se neles havia possíveis crimes.
“Moraes tinha parceiros que faziam pedidos para a assessoria monitorar, como integrantes da UFRJ, UFMG e a Agência Lupa”, disse o perito à Comissão de Segurança do Senado, presidida por Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Segundo Tagliaferro, até mesmo “uma simples crítica a ministro do Supremo, instituições brasileiras, urnas, eleições e até o [presidente] Lula” motivava o suposto monitoramento.
Pelo relatado, a assessoria entregava os relatórios de forma oficial, mas os pedidos iniciais eram feitos fora dos trâmites legais. “Os pedidos vinham por grupos de WhatsApp ou por conversas paralelas. Nós devolvíamos via rito oficial ao gabinete de Moraes, seja no TSE ou mesmo no STF. O que era falado para nós é que o rito normal demoraria muito, e que a democracia precisa de celeridade”, acrescentou.
Denunciado pela Procuradoria-Geral da República por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, violação de sigilo funcional, coação no curso do processo e obstrução de investigação envolvendo organização criminosa, Tagliaferro hoje mora na Itália e foi ouvido por videoconferência. Ele depôs simultaneamente ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal.
Na avaliação do procurador-geral Paulo Gonet, o perito agiu contra a legitimidade do processo eleitoral brasileiro e atuou para prejudicar as investigações de atos antidemocráticos ao vazar mensagens relacionadas a Moraes.
O ministro chegou a pedir a extradição do ex-assessor, mas o pedido ainda não foi analisado. Durante a oitiva no Senado, Tagliaferro afirmou não ter intenção de voltar ao Brasil por temer por sua vida.
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