Política

‘Estarrecedor’, diz Dilma ao relembrar homenagem de Bolsonaro ao torturador Ustra

A ex-presidenta da República discursou em comemoração pelos dez anos de criação da Comissão Nacional da Verdade

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) celebrou os 10 anos da Comissão Nacional da Verdade. Foto: Reprodução
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Em uma celebração dos dez anos de criação da Comissão Nacional da Verdade, a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) relembrou com pesar a homenagem de Jair Bolsonaro ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, destacado torturador da ditadura militar, em meio à votação do impeachment de 2016.

 

A petista, que estava em um evento virtual com ex-membros da Comissão, citou o fato como “estarrecedor” e disse que, se não tivessem ocorrido as investigações sobre os crimes da ditadura, barbaridades ainda piores poderiam ter acontecido nos anos recentes.

“Sem a Comissão da Verdade, maiores barbaridades teriam acontecido, além daquele fato, que é um fato estarrecedor, que é a homenagem prestada no voto feito pelo atual presidente da República, como deputado federal, no dia do impeachment, em que ele vota em homenagem a um torturador, ao maior torturador pelo menos do estado de São Paulo, porque durou mais tempo na chefia do Doi-Codi II da Operação Bandeirantes”, recordou Dilma Rousseff. “Eu considero que aquele momento foi muito importante.”

Na ocasião, Bolsonaro havia descrito Ustra como “o pavor de Dilma Rousseff”. Devido ao episódio, o Partido Verde entrou com uma ação contra Bolsonaro no Conselho de Ética da Câmara, mas o processo, sob relatoria do então deputado Marcos Rogério (DEM-MG), acabou arquivado.

Em distintas oportunidades, Bolsonaro repetiu o tributo ao militar, falecido em 2015, aos 83 anos, e reconhecido como torturador em 1ª instância pela Justiça de São Paulo. Em uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2018, chegou a recomendar um livro escrito pelo oficial.

Durante a sua presidência, Bolsonaro se reuniu com a viúva do coronel no Palácio do Planalto. O presidente da República chamou o agente repressor de “herói nacional”, enquanto recebia Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra em 8 de agosto de 2019.

Na visão de Dilma Rousseff, apesar das demonstrações de concordância com ações que afrontam os direitos humanos, o governo Bolsonaro não pode ser caracterizado como “neofascista”, porque ainda há uma “tentativa de fascistizar” o projeto político em curso. A atual gestão do Planalto seria, na verdade, um produto de uma estratégia das elites econômicas brasileiras baseada em “tentações golpistas”.

“A elite brasileira tem um profundo desprezo pelo povo”, afirmou. “Uma profunda insensibilidade diante do povo que permite que ela caia em todas as tentações golpistas que se lhe apresentam para encurtar o caminho para o poder.”

A Comissão da Verdade foi um colegiado formado em 18 de novembro de 2011, durante o 1º mandato de Dilma Rousseff, para apurar violações ocorridas entre 1946 e 1988. O relatório final foi entregue em 10 de dezembro de 2014, com 4,3 mil páginas.

Nessas investigações foi relatado, por exemplo, o apoio direto de empresas privadas à realização de torturas, prisões arbitrárias e perseguições políticas.

Para a ex-chefe do Executivo, os trabalhos representaram o exercício do “direito ao conhecimento”.

“A verdade não implica em perdão. É tão somente o contrário de esquecimento”, disse, ao mencionar o significado da palavra “verdade” segundo a tradição grega. “Ignorar a história não pacifica; mantém latente o ódio. A desinformação não ajuda a apaziguar. Ela facilita o trânsito para a intolerância.”

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