Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de vetar a possibilidade do presidente Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se candidatar à reeleição para o posto em 2021, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que a esquerda “vai precisar fazer uma aliança com setores que se diferenciem dela” para impedir a vitória do candidato de Jair Bolsonaro.
“Há um entendimento na oposição de que não permitiremos a vitória do Bolsonaro. Isso é possível porque no campo conservador há uma diferença. Eles têm a mesma agenda econômica – que nos contrapomos – , mas eles têm diferenças políticas. E nós temos que trabalhar essa diferença política, inclusive para tentar frear um pouco a agenda econômica. Acredito que é possível derrotar o Bolsonaro e a oposição vai precisar fazer uma aliança com setores que se diferenciem dela, pois o pior dos mundos seria a Câmara ser anexada ao Planalto”, afirmou Silva em entrevista a CartaCapital.
Para ele, caso a oposição se una ao bloco de Maia, o presidente não terá força para eleger Arthur Lira (PP-AL) ou qualquer candidato que apoie.
Leia a entrevista completa.
CartaCapital: A decisão do STF foi uma derrota do Maia?
Orlando Silva: Eu considero que deu a lógica, pois a única vez que o Supremo não fez uma leitura da Constituição foi quando se discutiu a [prisão a partir da condenação em] segunda instância. O Bolsonaro tem uma vitória, já que tem como estratégia derrotar o Maia e o Maia agora está fora do jogo. Tirar o Maia do jogo, portanto, é uma derrota dele e uma vitória do presidente da República.
CC: O Rodrigo Maia seria favorito se pudesse disputar a reeleição?
OS: Primeiro, ele dizia reservadamente que não seria candidato. Na quarta-feira, eu passei a manhã com ele em Brasília e ele me garantiu que não seria candidato.
Agora, tem vantagens e desvantagens. A vantagem é que ele tem espaço para diálogo com muita gente e a desvantagem é que é a reeleição, já que na reeleição a pessoa carrega um passivo no mandato anterior. A decisão do Supremo, no fundo, zera o jogo que começa agora.
CC: O Maia disse que a candidatura que ele constroi ultrapassa os votos do centro e da centro-direita. Quem dos possíveis candidatos a esquerda pode apoiar?
OS: Nós vamos construir entre nós, não temos ainda uma definição sobre isso. O que tem de definido no campo da oposição e da esquerda é de que a disputa deve ser tratada como muito cuidado, pois não podemos permitir uma vitória de Bolsonaro. Se o Bolsonaro anexar a Câmara ao Palácio do Planato, sabe-se lá Deus o que pode acontecer no próximo período.
Há um entendimento na oposição de que não permitiremos a vitória do Bolsonaro. Isso é possível porque no campo conservador há uma diferença. Eles têm a mesma agenda econômica – que nos contrapomos a ela – , mas eles têm diferenças políticas. E nós temos que trabalhar essa diferença política, inclusive para tentar frear um pouco a agenda econômica.
Acredito que é possível derrotar o Bolsonaro e a oposição vai precisar fazer uma aliança com setores que se diferenciem dela, pois o pior dos mundos seria a Câmara ser anexada ao Planalto.
CC: Quem na avaliação do senhor é o melhor candidato?
OS: Vamos ter que fixar um acordo político com base de ideias públicas e não em torno de nomes, pois temos diferença na agenda econômica, mas pode ter convergência no campo político. A tarefa da oposição é fixar um programa mínimo que dê base para um entendimento e, a partir daí, sentar na mesa para negociar com outros setores.
CC: O senhor avalia como boas as chances do Bolsonaro fazer o Lira presidente da Câmara?
OS: Eu não acredito que o Bolsonaro eleja o presidente da Câmara, mas sei que ele vai lutar muito.
CC: Usando a reforma ministerial para oferecer cargos?
OS: O Bolsonaro é o símbolo maior da velha política. Eu não tenho a menor dúvida de que ele usará todos os recursos para tentar anexar a Câmara.
CC: Hoje, o senhor acha que ele não tem força?
OS: Eu não acredito que, hoje, ele tem força, desde que nós consigamos construir uma aliança. A esquerda sozinha não tem força para eleger o presidente. Você tem três pedaços da Câmara: o campo da oposição, o campo do Rodrigo Maia e o campo bolsonarista. O nosso objetivo é impedir que o campo bolsonarista seja majoritário.
CC: O PSOL deve lançar algum candidato para marcar posição, mas os demais partidos de oposição discutem o apoio e não um nome a ser lançado?
OS: Queremos discutir uma agenda, para que a Câmara seja independente do Planalto. Eu não discuto quem marca posição, mas não adianta jogar para a galera, que pode ser uma coisa bonita para ganhar likes na internet, mas o jogo jogado de verdade tem que ser anti-bolsonarista.
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