Política
Entenda o relatório da PF que liga uma milícia digital à estrutura do Gabinete do Ódio
O documento, assinado pela delegada Denisse Ribeiro e enviado ao STF, avança nas explicações sobre como opera um grupo fundamental para o bolsonarismo
Relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal confirma que uma milícia digital antidemocrática utiliza a estrutura do Gabinete do Ódio para desferir ataques contra as instituições.
O documento, assinado pela delegada Denisse Ribeiro, avança nas explicações sobre como opera um grupo fundamental para o bolsonarismo.
Em linhas gerais, esse gabinete produz conteúdos para atacar pessoas – “alvos” ou “espantalhos” – previamente escolhidas, “por múltiplos canais de comunicação” e apostando no “amplo emprego de vários canais da rede mundial de computadores, especialmente as redes sociais, com eliminação de intermediários”.
A PF lista as principais características dessas operações:
- em “alto volume” e por multicanais, com grande quantidade de fontes;
- de maneira rápida, contínua e repetitiva, para formar uma primeira impressão duradoura no receptor, conduzindo a familiaridade com a informação e aceitação;
- sem compromisso com a verdade;
- sem compromisso com a consistência do discurso ao longo do tempo.
Desta forma, a milícia digital, por meio do Gabinete do Ódio, ataca anonimamente “antagonistas, políticos, ministros do STF, integrantes do próprio governo etc.”, em busca de “ganhos ideológicos, político-partidários e financeiros”.
O relatório de Denisse Ribeiro expõe o modus operandi da milícia digital, dividido em quatro eixos principais:
- a eleição, ou seja, a indicação do alvo das ações;
- a preparação, que consiste em elaborar conteúdos e separar tarefas, além de escolher os canais a serem utilizados para amplificar o discurso;
- o ataque, a partir de postagens “com conteúdo ofensivo, inverídico e/ou deturpado, formulado por várias fontes, por diversos canais e intensificado pela transmissão/retransmissão a integrantes do grupo que possuem muitos seguidores/apoiadores nas redes sociais”;
- e a reverberação, definida como a multiplicação cruzada das postagens por novas retransmissões, complementadas ou não com novos elementos, inclusive por autoridades públicas.
Segundo a PF, o material colhido ao longo da investigação permite identificar uma atuação “orquestrada”, com o intuito de “obter vantagens para o próprio grupo ideológico e auferir lucros diretos ou indiretos por canais diversos”.
O documento menciona, por exemplo, a promoção do tratamento precoce contra a Covid à base de remédios comprovadamente ineficazes e a elaboração de dossiês “contra antagonistas e dissidentes, inclusive com insinuação de utilização da estrutura de Estado para atuar ‘investigando todos’”.
A PF afirma que ainda há lacunas a serem preenchidas com a adoção de diligências como novos depoimentos, cruzamento dos dados já colhidos e indiciamentos.
Há menção direta ao presidente Jair Bolsonaro no relatório. O texto sustenta a ligação com outros eventos relacionados ao grupo investigado, como no antigo Inquérito 4781, que apurava a organização e o financiamento de atos antidemocráticos. Ao encerrar este inquérito, em julho do ano passado, o ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de um novo (Inquérito 4874), mirando a atuação de uma milícia digital.
Além disso, há ligação com “a realização da live do dia 29/07/2021 (…) em que o Exmo. Sr. Presidente promove desinformação com intuito de ‘levar parcelas da população a erro quanto à lisura do sistema de votação, questionando a correção dos atos dos agentes públicos envolvidos no processo eleitoral (preparação, organização, eleição, apuração e divulgação do resultado)'”.
A delegada cita, ainda, o Inquérito 4878, aberto para investigar a atitude de Bolsonaro ao vazar dados sigilosos de uma apuração sobre tentativas de ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral. Neste caso, diz a PF, o ex-capitão “promoveu desinformação e a divulgação de dados sob sigilo”.
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