Política

‘Enquanto brasileiros morriam, o Ministério da Saúde negociava com estelionatários’, diz Randolfe

Após o depoimento de representante da Davati, o senador afirmou que a CPI também se debruçará sobre o papel das fake news na pandemia

Foto: Pedro França/Agência Senado
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O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o depoimento  do representante comercial da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, demonstrou que o Ministério da Saúde “negociava com estelionatários” enquanto “mais de três brasileiros morriam por dia”.

A Davati entrou na mira da comissão por atuar como intermediária na negociação de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca com o governo de Jair Bolsonaro, em uma tratativa possivelmente marcada por irregularidades. À comissão, o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, apontado como um representante autônomo da Davati, disse que o então diretor de Logística da Saúde, Roberto Dias teria, concordado com a compra dos imunizantes em troca de propina no valor de 1 dólar por dose.

Segundo Randolfe, “vários personagens da cadeia de comando do ministério que anteriormente se negavam a se reunir com a Pfizer se encontraram com a Davati”. O senador reforçou que foi o próprio Roberto Dias quem procurou Cristiano Carvalho.

Randolfe Rodrigues destacou, em entrevista coletiva, a participação do Instituto Força Brasil no episódio. Segundo Carvalho, o instituto esteve por trás da reunião com o então secretário executivo da Saúde, Élcio Franco, para discutir a proposta pelos 400 milhões de doses de vacina.

“Esse instituto, que tem feito campanhas negacionistas em relação à pandemia e às vacinas, intermedeia um negócio para uma vacina fake. Um golpe. Esse instituto constitui um dos principais braços de apoio do governo Bolsonaro nas redes sociais. Os personagens desse instituto são investigados nos inquéritos [no Supremo Tribunal Federal] dos atos democráticos e das fake news”, acrescentou Randolfe.

Em agosto, com o fim do recesso parlamentar, o vice-presidente da CPI avalia que o colegiado terá de aprofundar as investigações sobre os contratos “e o esquema de corrupção em curso no Ministério da Saúde”. Também afirma ter a expectativa de que até setembro a comissão possa apresentar o relatório final.

“A fase nova que se abre é o papel das fake news no agravamento da pandemia”, completou Randolfe na entrevista.

A oitiva

Cristiano Carvalho disse à CPI ter sido procurado pelo então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, para dar prosseguimento à negociação de vacinas com a pasta.

Carvalho negou ter recebido qualquer pedido de propina, mas mencionou a proposta de um ‘comissionamento’ que chegou a ele por meio do grupo do coronel Marcelo Blanco. O militar esteve no jantar em que, segundo o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, Roberto Dias teria pedido a propina de 1 dólar por dose de vacina.

“A informação que veio a mim foi que, vale ressaltar isso, não foi o nome ‘propina’, ele usou ‘comissionamento’”, afirmou Carvalho. O depoente disse ter sido procurado por Dias em 3 de fevereiro e mantido conversas meramente profissionais.

No depoimento, Cristiano Carvalho afirmou ter comparecido ao Ministério da Saúde pela primeira vez em março deste ano, levado por Dominguetti e pelo reverendo Amilton Gomes de Paula.

O reverendo se tornou um personagem de interesse dos senadores por receber um aval do então diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Laurício Monteiro Cruz, para negociar em nome do governo a compra das vacinas com a intermediação da Davati.

Carvalho confirmou as impressões dos senadores sobre o religioso. Segundo o depoente, Dominguetti teria chegado ao Ministério da Saúde “através do reverendo Amilton”.

“Eu não acredito que um cabo da PM de Minas Gerais, buscando ganhar algum dinheiro, tenha chegado a tão altos escalões da República sem um mediador. Ele, reverendo Amilton, deu algumas declarações dizendo que foi ele que abriu as portas do Ministério”, disse Carvalho.

Cristiano Carvalho também afirmou à CPI não saber de que forma a Davati poderia revender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. “Vou ser bem sincero. Acredito que eu estou neste turbilhão por colocações mal feitas pelo Dominguetti aqui na comissão há 15 dias, e há 15 dias a Davati não consegue ou quer dar essas explicações”, avaliou. “Essa informação Herman nunca passou a mim”, disse, em referência a Herman Cardenas, CEO da Davati.

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