Política

Empresário bolsonarista admite ter financiado tenda do acampamento golpista em Brasília

Declaração foi dada durante um depoimento à CPI que apura os atos no DF

Adauto Mesquista confirmou que deu dinheiro em PIX para golpistas acampados. Foto: Gabinete Chico Vigilante
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O empresário Adauto Lucio de Mesquita, dono da rede Melhor Atacadista, admitiu ter financiado parte das tendas do acampamento golpista instalado em frente ao quartel do Exército de Brasília após derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. A confirmação da doação aos manifestantes foi dada em depoimento na CPI dos Atos Antidemocráticos do DF nesta quinta-feira 4.

Segundo explicou aos deputados distritais, ele teria doado cerca de 1.200 reais ao grupo de golpistas acampados e teria ido ao local ‘três ou quatro vezes’ e ‘bem rápido’. Ele alega que aceitou fazer a contribuição porque foi convencido por ‘uma senhorinha’.

“Diretamente, não contratei tenda. Mas fiz doações pequenas, umas três. Uma de 1 mil, duas de 100 reais. Eu estava andando, e tinha uma tenda com uma cozinha. A senhorinha falou que estava trabalhando pelo Brasil. A mulher, quase chorando, dizendo que tirariam a tenda. Aí fui lá e fiz a doação”, disse.

O empresário, que também é um dos doadores de campanha de Bolsonaro, disse, porém, que não viu no acampamento uma ameaça de golpe. Segundo relatou aos distritais, o pedido de intervenção seria feito ‘apenas por alguns malucos’, que, defende, existiriam ‘em qualquer lugar’.

Além da doação, o empresário admitiu ter se envolvido na contratação de um caminhão de som para os golpistas. Neste caso, porém, diz que sua parcela de contribuição não foi financeira.

“Eu sei pechinchar, mas não paguei um centavo do coyote [apelido do caminhão]”, disse. “Fui, apresentei-me, negociei e pedi um preço menor. Tenho habilidade de pechinchar. Mas não dei um centavo. Eles já contratariam. Só ajudei a negociar”, insistiu depois.

A argumentação de defesa do empresário é de que as gravações dele junto ao carro de som foram uma ‘empolgação de momento’ e não porque ele seria um dos organizadores.

Por fim, os deputados indagaram ainda sobre a ida do empresário aos atos terroristas do dia 8 de Janeiro, em que ele diz ter chegado apenas às 17 horas, após o vandalismo. Ele não forneceu explicações, porém, dos motivos de ter ido ao local mesmo após a depredação e o confronto de golpistas com a polícia. Aos deputados, disse apenas que acreditava que o ato era pacífico.

No depoimento, importante mencionar, Adauto reconheceu apenas as doações pessoais ao acampamento e negou que sua empresa tenha levado alimento ou outros insumos aos golpistas. Denúncias da prática, porém, seriam consistentes e estão sendo apuradas. O empresário, também cabe lembrar, é alvo de outra investigação por ter supostamente instalado outdoors ilegais de campanha para Bolsonaro. Na ocasião, as placas usavam o slogan de campanha do ex-capitão e as cores do Brasil, mas disfarçadas de apoio à seleção de futebol na Copa do Mundo.

Outro lado

Em nota, a assessoria do empresário reafirma o volume doado por Adauto aos golpistas, mas alega que se trataram de repasses eventuais e não poderiam ser classificadas como financiamento.

“Durante seu depoimento, Adauto afirmou ter feito apenas três doações para diferentes pessoas no QG do Exército, uma de R$100,00, outra de R$110 e a última de R$1.000,00. Assim como comprovaram, mais uma vez, seus extratos bancários”, diz. “[Mas] Em nenhum momento, durante seu depoimento, Adauto afirmou que financiou atos golpista, diferente do que foi noticiado pela reportagem”.

Ainda na nota, a assessoria de Adauto tornou a negar participação nos atos de vandalismo do dia 8 de Janeiro e disse ‘repudiar’ as ações dos terroristas. “Democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência”, diz o comunicado, finalizado com a afirmação de ‘crença na Justiça e instituições’.

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