O procurador-geral da República, Augusto Aras, tentou nesta terça-feira 24 descolar sua imagem do presidente Jair Bolsonaro. Em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o chefe do Ministério Público Federal afirmou que “a política é para os políticos”.
Segundo Aras, indicado por Bolsonaro para um novo mandato de dois anos, o MPF “não é de governo, nem é de oposição, mas constitucional”.
“E essa importância constitucional faz com que não se meça a posição, a eficiência, o trabalho do PGR por alinhamento ou desalinhamento com posições ideológicas ou políticas de quem quer que seja”, disse.
“Importante não apenas preservar a ideia de que o PGR deve se ater ao discurso jurídico, com base na lei e na Constituição, sem imiscuir no dia a dia político. A política é para os políticos”, acrescentou.
Antes de ser questionado por senadores, Aras proferiu um discurso de cerca de 40 minutos em que declarou ter conduzido a PGR “sem vazamentos midiáticos” e com “parcimônia”. Também fez uma menção indireta a um de seus antecessores. Em julho de 2017, já na reta final de seu mandato na PGR, Rodrigo Janot declarou que manteria o ritmo de investigações e denúncias até o fim. “Enquanto houver bambu, vai ter flecha”, disse ele dias antes de ‘passar o bastão’ para Raquel Dodge.
“Se tivéssemos duas grandes operações por mês e tivéssemos feito vazamentos dos investigados, talvez estivesse hoje em uma posição de muitos elogios, de quem distribuiu flechadas pelo País, criminalizando a política”, ironizou Aras.
O procurador-geral também criticou os rumos da Lava Jato e o modelo de força-tarefa que marcou a operação. De acordo com ele, a estratégia “com pessoalização culminou em uma série de irregularidades que vieram a público”. Aras citou os episódios revelados pela Vaza Jato e “a frustrada gestão de vultosas quantias arrecadadas em acordos de colaborações e em acordos de leniência, por meio de fundos não previstos em lei“.
Ao final da sabatina desta terça, os 27 membros da CCJ do Senado votarão o parecer do relator, o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que se manifestou a favor da aprovação de Aras. A decisão final, porém, caberá ao plenário da Casa Alta. Para ser reconduzido ao cargo, o PGR precisará de pelo menos 41 dos 81 votos.
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