O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou sua participação no Flow Podcast, nesta segunda-feira 8, para voltar a lançar dúvidas infundadas sobre o sistema eleitoral, para relativizar o golpe de 1964, que fez o Brasil mergulhar em uma ditadura por 21 anos, e para incentivar o uso de remédios comprovadamente ineficazes contra a Covid-19.
Em uma longa entrevista, o ex-capitão tornou a defender a participação das Forças Armadas na fiscalização das eleições e a adoção de uma espécie de apuração paralela dos votos – um casuísmo para o pleito deste ano. Ele ressaltou o papel dos militares na Comissão de Transparência das Eleições, criada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
“O que as Forças Armadas sugeriram: o mesmo duto que alimenta a sala-cofre, chegando seção por seção, que entre em uma sala do lado, da CTE. Ali estarão OAB, Polícia Federal, Forças Armadas, CGU. Por que eles não querem? A gente chama de apuração simultânea”, disse no programa. “Eu não estou com medo de perder a eleição. Se eu quisesse dar golpe, não falaria nada. Deixa correr, no último dia dá golpe. Eu quero transparência, mais nada.”
Ao repetir o seu posto de comandante supremo das Forças Armadas, afirmou que “não vamos dar ares de legalidade [à eleição]” e que “queremos saber tudo”.
Também voltou a atacar diretamente ministros do TSE e do Supremo Tribunal Federal, em especial Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, a quem chamou de “mentiroso” e acusou de interferir diretamente no Congresso Nacional a fim de barrar a aprovação da PEC do Voto Impresso, em 2021.
“O ministro Barroso foi para dentro da Câmara, fazendo política, o que é crime. Constrangeu lideranças partidárias para não aprovar a PEC.”
Na semana passada, em postagem nas redes sociais, o magistrado já havia rebatido a alegação do presidente. “Mentir precisa voltar a ser errado de novo. Compareci à Câmara dos Deputados, como presidente do TSE, para debater o voto impresso, atendendo a TRÊS CONVITES OFICIAIS”, escreveu Barroso nas redes sociais. “E foi a própria Câmara que derrotou a proposta de retrocesso. Mas sempre haverá maus perdedores”.
No Flow, Bolsonaro ainda retomou o discurso negacionista ao atacar as medidas recomendadas por especialistas para conter a disseminação da Covid-19 nos momentos mais graves da pandemia, exaltar medicamentos comprovadamente ineficazes e se vangloriar por, supostamente, não se vacinar.
O ex-capitão também voltou a mentir sobre a história do País ao tentar minimizar as consequências do golpe civil e militar de 1964, a instaurar uma ditadura que só seria vencida em 1985. Apenas segundo um levantamento da Comissão Nacional da Verdade, 191 brasileiros que resistiram à ditadura foram mortos, 210 estão até hoje desaparecidos e apenas 33 corpos foram localizados, totalizando 434 militantes mortos e desaparecidos.
Conforme um estudo da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da SEDH-PR, pelo menos 50 mil pessoas foram presas somente nos primeiros meses da ditadura e cerca de 20 mil brasileiros passaram por sessões de tortura.
“O que foi o regime militar? Tem prós e contras. Não tem nenhum regime perfeito”, declarou Bolsonaro nesta segunda. “Por que aconteceu o 64? Quem cassou João Goulart foi o Congresso, não os militares. Dia 11 [de abril de 1964] o Congresso votou no marechal Castello Branco e no dia 15 ele assumiu. Não houve um pé na porta. Os golpes se dão com pé na porta, fuzilamento, paredão. Foi tudo de acordo com a Constituição de 1946.”
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