Política

Em meio a panelaço, Bolsonaro muda o tom e pede ‘diálogo’

Presidente que demoniza opositores se vê emparedado e muda o tom, mas segue culpando os outros

Foto: Reprodução
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O presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) se pronunciou em rede nacional nesta sexta-feira 23, em meio a um panelaço nacional, para justificar o injustificável: a Floresta Amazônica em chamas, algo que já impacta diretamente o Brasil, causa comoção mundial e gera a possibilidade real de sanções por potências às vésperas do G7, marcado para este fim de semana. O discurso, em tom ameno, foi um contraste em relação à história do ex-capitão (hoje ou antes da Presidência), um gigante contraste em relação aos filhos que, desde o início da crise florestal, insistem em (alguma novidade?) acelerar indisposições.

“Incêndios florestais existem em todo o mundo, e isso não pode servir de pretexto para possíveis sanções internacionais. O Brasil continuará sendo, como foi até hoje, um país amigo de todos e responsável pela proteção da sua floresta Amazônica”, disse Bolsonaro, já no final de seu discurso.

“Um país amigo de todos” que, nestes primeiros meses de governo, tratou de tensionar para lados variados, incluindo com nações como França, Alemanha, Argentina e todas as “esquerdalhas”. E com a justificativa infantil de que os incêndios estão aí “em todo o mundo”, está ok?

Ao fundo, panelas.

“Estamos numa estação tradicionalmente quente, seca e de ventos fortes, em que todos os anos infelizmente ocorrem queimadas na região amazônica. Nos anos mais chuvosos, as queimadas são menos intensas. Em anos mais quentes, como nesse, 2019, elas ocorrem com maior frequência. De todo modo, mesmo que as queimadas deste ano não estejam fora da média dos últimos 15 anos, não estamos satisfeitos com o que estamos assistindo”, alegou.

Palmas? Não: panelas, pela primeira vez desde a massa estudantil quebrando o silêncio das ruas.

“É preciso lembrar que, naquela região, vivem mais de 20 milhões de brasileiros que há anos aguardam dinamismo econômico proporcional às riquezas ali existentes. Para proteger a Amazônia, não bastam operações de fiscalização, comando e controle. É preciso dar oportunidade a toda essa população para que se desenvolva junto com o restante do país”, afirmou Bolsonaro, amigo  dos “paraíbas”.

Bolsonaro pediu “serenidade” para tratar da matéria e acusou o uso político de informações falsas, “dentro e fora do Brasil”. Defendeu que o Brasil é exemplo de sustentabilidade, conserva maioria de sua vegetação nativa, possui lei ambiental moderna e Código Florestal modelo. “Diversos países desenvolvidos, por outro lado, ainda não conseguiram avançar com seus compromissos no âmbito do Acordo de Paris”, contrapôs.

Opa, que nenhum amigo do G7 ouça esta parte.

Mais panelas.

Discurso foi mais ameno do que nas redes

No Twitter, horas antes, o presidente da República atacou diretamente o presidente francês Emmanuel Macron. “A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21”, escreveu.

A família Bolsonaro seguiu na mesma linha. Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) chamou Macron de “Doria francês” e cobrou que ele se manifeste sobre o que chamou de povo “massacrado por um ditador comunista” na Venezuela.

Já o futuro embaixador Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) compartilhou publicação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em que diz que a crise na Amazônia é fruto do lobby dos agricultores europeus, ONGs e artistas. “A crise amazônica falsa é fruto do acordo comercial fechado com a Europa. O lobby dos agricultores europeus reagiu diante da iminente invasão de produtos brasileiros. Isso, combinado com ONGs, esquerda e ‘artistas’, revoltados com o fim da mamata”.

Internautas divulgam vídeos de panelaços

Durante o pronunciamento em cadeia nacional, houve “panelaços” em várias cidades brasileiras. Um usuário publicou um vídeo no Twitter em que se ouve protestos e batidas com panelas, no bairro de Santa Cecília.

No bairro paulistano de Bela Vista, mais manifestações divulgadas por internautas.

No Rio de Janeiro, o vereador Tarcísio Motta (PSOL-RJ) divulgou um vídeo em que se pode escutar reações de manifestantes em suas casas, na Barra da Tijuca, durante a mensagem do presidente.

Em Copacabana, mais protestos.

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