Economia

Em julho, Guedes defendeu excluir regra que tributava recursos em paraíso fiscal

Dono de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, o ministro defendeu não tributação desses tipos de recursos pela Imposto de Renda

Em julho, Guedes defendeu excluir regra que tributava recursos em paraíso fiscal
Em julho, Guedes defendeu excluir regra que tributava recursos em paraíso fiscal
Paulo Guedes, ministro da Economia. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
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O ministro da Economia Paulo Guedes defendeu, em julho deste ano, excluir da reforma do Imposto de Renda a regra que taxava recursos mantidos por brasileiros em paraísos fiscais. Defesa foi feita durante um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), conforme registrou o jornal Folha de S. Paulo.

“Ah, ‘porque tem que pegar as offshores‘ e não sei quê. Começou a complicar? Ou tira ou simplifica. Tira. Estamos seguindo essa regra”, defendeu o ministro na ocasião.

O artigo, que originalmente criava uma tributação sobre os lucros de recursos das pessoas físicas residentes no Brasil alocados em empresas estrangeiras sediadas em paraísos fiscais, foi retirado do texto em tramitação. A exclusão ocorreu logo após Guedes se reunir com o então relator do projeto, deputado Celso Sabino (PSDB-PA).

Nesta semana, reportagens do Pandora Papers, uma apuração conduzida por 616 jornalistas de 117 países sob a coordenação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), revelou que Guedes é dono de uma offshore nas Ilhas Virgens, um paraíso fiscal britânico localizado no Caribe. São sócios de Guedes na offshore a esposa do ministro, Maria Cristina Bolivar Drumond Guedes, e a filha, Paula Drumond Guedes.

Segundo a investigação, executada no Brasil pelos veículos Poder360, Metrópoles, piauí e Agência Pública, o agora ministro de Jair Bolsonaro abriu, em 25 de setembro de 2014, a Dreadnoughts International, onde aportou 9,55 milhões de dólares (23 milhões de reais à época, 51 milhões de reais no câmbio atual).

Além de Guedes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também mantém empresa em paraísos fiscais. A mera abertura de uma offshore não é ilegal, desde que os recursos sejam declarados à Receita Federal e ao Banco Central. Servidores públicos, no entanto, têm de atender a critérios específicos.

Em ambos os casos, a situação é, a princípio, regular e declarada, mas considerada imoral e alvo de outras suspeitas. A Procuradoria-Geral da República instaurou um procedimento de apuração preliminar sobre o episódio.

O senador Randolfe Rodrigues, líder da oposição no Senado, já acionou o Supremo Tribunal Federal com uma notícia-crime para investigar as empresas. A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados anunciou que começará a recolher assinaturas para requisitar a abertura de uma CPI para investigar a offshore de Guedes. O deputado Marcelo Freixo informou que, com o auxílio de outros líderes da oposição na Câmara, acionará o MPF para que investigue Guedes e Campos Neto. O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) também apresentou um ofício contra Guedes e Campos Neto à Procuradoria-Geral da República e deputado Ivan Valente (PSOL-SP) anunciou uma representação na Comissão de Ética Pública.

Após a repercussão do caso do ministro, o atual relator do projeto de reforma do IR na Câmara, deputado Angelo Coronel (PSD-BA), afirmou ao jornal que vai analisar uma eventual reinserção das regras eliminadas.

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