Preso há mais de um ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apenas agora pode ser visto e ouvido na imprensa. Nesta sexta-feira 25, Lula recebeu os jornalistas Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, e Florestan Fernandes Jr, pelo El Pais Brasil, para uma entrevista.
Por volta das 16h, um vídeo de sete minutos, com a marca d’água do El Pais, apareceu no perfil de políticos do PT. Minutos depois, a versão brasileira do site disponibilizou o vídeo e uma primeira parte transcrita da conversa. No trecho destacado pelo jornal espanhol, Lula diz que tem a consciência tranquila e que quer sair da prisão com a cabeça erguida.
“Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o Moro, desmascarar o Dallagnol e a sua turma, e desmascarar aqueles que me condenaram que eu ficarei preso 100 anos. Mas não trocarei minha liberdade pela minha dignidade”, disse.
Em relação a uma eventual absolvição, ele disse esperar que as cortes superiores revejam a condenação, e exaltou a coragem do Supremo Tribunal Federal em casos como a autorização do casamento gay e a pesquisa com células-tronco, cotas para negros e a reserva Raposa Serra do Sol. “Eu só peço que votem pelos autos do processo.”
Também criticou a decisão do STJ, que, embora tenha baixado sua pena, ratificou a sentença de Moro e condicionou uma eventual prisão domiciliar ao pagamento de multa de 2 milhões de reais. “Qual é a diferença de 32 milhões para 2 milhões, qual é a lógica?”
A Folha publicou seu texto minutos depois, destacando no título uma declaração de Lula sobre o governo Bolsonaro (“um bando de malucos”). Segundo o jornal, Lula chorou ao falar do neto Arthur, de 7 anos, morto há um mês. “Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Eu já vivi 73 anos, poderia morrer e deixar o meu neto viver”.
A Folha de S. Paulo e o El País Brasil foram liberados depois de uma batalha jurídica que durou quase oito meses. No fim do ano passado, o pedido havia sido autorizado por uma liminar de Ricardo Lewandowski, do STF, mas outra canetada de Luiz Fux barrou as entrevistas. O encontro só foi possível depois de o ministro Dias Toffoli, presidente da Corte, extinguir a decisão de Fux.
Os três ficaram em uma sala dentro da carceragem da Polícia Federal por duas horas, acompanhados por cinegrafistas e fotógrafos.
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