Política

Palocci fala em “pacto de sangue” de Lula com a Odebrecht

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o ex-ministro cita o ex-presidente em esquema da Petrobras e da construtora

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Em depoimento a Sergio Moro nesta quarta-feira 6, o ex-ministro Antonio Palocci confirmou as acusações contra o ex-presidente Lula em relação a um esquema de propinas envolvendo a compra de um terreno em São Bernardo.

Ele afirmou que Lula fez um “pacto de sangue” com Emílio Odebrecht para ser beneficiado com “um pacote de propinas”, que envolveria um fundo de 300 milhões de reais para “atividades políticas” do ex-presidente. Segundo o ex-ministro, o terreno em São Bernardo é parte deste pacote.

A ação conduzida por Moro trata da compra de um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula, em São Paulo, e de um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo. Segundo o Ministério Público Federal, a Odebrecht pagou 12,4 milhões pelo terreno, mas a obra não foi executada. De acordo com a acusação, Lula teria recebido como vantagem indevida uma cobertura vizinha à residência onde mora.

Palocci narra que, após a eleição de Dilma Rousseff, Emílio Odebrecht procurou Lula, pois o empresário dizia estar “em pânico” com a eleição da sucessora do ex-presidente. Ainda segundo o ex-ministro, a apreensão se devia a rusgas entre a empreiteira e a petista, quando esta era chefe da Casa Civil. Em episódio citado por Palocci, Dilma atuou para a Odebrecht não comandar o conjunto de obras das usinas de Santo Antonio e Jirau. 

O ex-ministro relata ter havido uma reunião entre Emílio e Lula para tratar do pacote de propinas, mas nega ter estado presente. Segundo ele, o relato é do próprio ex-presidente. “Foi nesse momento (eleição de Dilma) que o dr. Emilio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula. Ele procurou o presidente Lula nos últimos dias do seu mandato e levou um pacote de propinas que envolvia esse terreno do instituto, o sítio pra uso da família e também que tinha à disposição 300 milhões de reais”

Segundo Palocci, Lula chamou o ex-ministro para um encontro no Palácio da Alvorada para avisá-lo da reunião com Emílio, supostamente ocorrida no dia anterior. Segundo Palocci, o próprio Lula ficou surpreso com o valor oferecido e teria dito que Odebrecht só propôs o pacote “porque tinha muito receio” da Dilma. De acordo o ex-ministro, Lula pediu a Palocci para tratar diretamente do tema com a Odebrecht.

Palocci narra então que se encontrou com Marcelo Odebrecht, filho de Emílio, para questioná-lo sobre o pacote de propinas. Segundo o ex-ministro, Marcelo alegou que seu pai achava importante “estabelecer de forma clara a relação, não mais no fio do bigode, mas uma relação mais explícita”.

Marcelo teria afirmado que seu pai se enganou sobre o valor. Seriam 150 milhões de reais provisionados a Lula, e não 300 milhões. Palocci teria então sugerido ao ex-presidente “esquecer dessa história de conta corrente”. Lula teria desconversado.

Dias depois, narra Palocci, Emílio encontrou-se em uma reunião com Lula e Dilma. O ex-presidente teria pedido a sua sucessora que “preservasse” a relação do governo com a Odebrecht. Palocci disse que também não estava presente nessa reunião.

Em novo encontro, Lula teria afirmado a Palocci que Emílio confirmou “os 300 milhões” ao ex-presidente e falou ” que pode ser mais, se necessário”. Segundo o ex-ministro, a empresa não pediu contrapartidas específicas naquele momento pelo suposto provisionamento de propinas a Lula. 

Defesa de Lula

Em nota enviada pelo advogado do petista, Cristiano Zanin Martins diz que o depoimento é “contraditório” e repleto de “frases de efeito”, com o objetivo de obter um bom acordo de delação premiada. 

“O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas. Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula”, afirma.

A nota também compara o depoimento de Palocci ao do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, e Delcídio do Amaral, ao tentar validar “sem provas, as acusações do MP para obter redução da pena”.

“Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como pacto de sangue’, esta última anotada em papéis por ele usados na audiência. Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP”, critica. 

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