Política
Em depoimento, Lula nega favorecimento a montadoras em MP
O ex-presidente também negou relação pessoal com o empresário Mauro Marcondes, um dos réus na ação penal


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou, nesta quarta-feira 19, que tenha favorecido e recebido vantagens indevidas na edição de medidas provisórias durante seu governo. Lula prestou depoimento na condição de réu na ação penal sobre supostas vantagens concedidas a empresas automobilísticas, por meio da Medida Provisória n° 471, editada em 2009. Os fatos foram investigados na Operação Zelotes, da Polícia Federal (PF).
No depoimento que durou cerca de uma hora e foi prestado ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília, Lula disse que, durante seu governo, recebeu representantes oficiais do setor automobilístico, mas a tramitação se dava no Congresso. Segundo ele, o objetivo da MP era desenvolver o Nordeste e levar fábricas para a região. “Não discutia medidas provisórias com o setor automobilístico. Era discutido com os ministros. Quando a MP chega, chega para o presidente assinar. É o papel do presidente”, disse.
O ex-presidente também negou relação pessoal com o empresário Mauro Marcondes, um dos réus na ação penal. Segundo o MPF, as supostas vantagens teriam sido acertadas em reuniões com o empresário. “Nunca atendi sozinho Mauro Marcondes enquanto presidente da República para tratar da MP 471 no Palácio do Planalto”, afirmou.
Ministério Público
De acordo com a denúncia, as empresas automobilísticas teriam prometido R$ 6 milhões a Lula e ao ex- chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, em troca de benefícios para o setor.
“Diante de tal promessa, os agentes públicos, infringindo dever funcional, favoreceram às montadoras de veículos MMC [Mitsubishi] e Caoa ao editarem, em celeridade e procedimento atípicos, a Medida Provisória n° 471, em 23/11/2009, exatamente nos termos encomendados, franqueando aos corruptores, inclusive, conhecimento do texto dela antes de ser publicada e sequer numerada, depois de feitos os ajustes encomendados”, afirma o MPF.
Após o depoimento de todos os seis réus, o processo ficará concluso para sentença, quando Lula e os demais investigados deverão ser condenados ou absolvidos. Não há data para a decisão.
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